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Mostrando postagens de outubro, 2019

todo dia é maio

isto não é uma menina . a testemunha curvada  punha fora o ácido  (um outro, bem mais bem mais humano) isto não é uma criança. nenhum preparo objetivo prevê essas lágrimas  e um ou mais policiais maculavam suas poses másculas  por entre as fardas. isto não é uma filha. a mídia de Médici expiou seu bode na boliviana chamada traficante. e os passos sozinhos de araceli  foram logo único cerne da história  já que os envolvidos eram muito perversamente acompanhados.  isto não é a minha filha. e a mutilação lancinante de um pai que vê tombada em barbárie sua prole não passou no crivo da censura institucional  para ter permissão de lamento. isto não é um corpo. então pequena, foi descoberta ainda mais pequena nas sobras dissolvidas sadicamente às pressas  arremessadas ao léu de ...

nau dos insensatos

"- Louca" outra vez muito bem repito para não ter certeza  aceito epíteto. tal qual última refeição de um condenado - sob uma almofada ao chão simulando pobre conforto comprei mais um maço  e fumo com ódio. tudo o que eu faço e o mais que eu seja é com ódio. de que flores você comenta? dias ruins e piores, mas isso? isso eu? desejo findar os desejos outra vez. destilo à caneta azul a saúde custa mais que a doença, e ele? eu quero proteger da minha corruptela genética  tenho de rosa pintadas as unhas, quanta ironia. meus gatos talvez viciados em nicotina. e a suspensão das reticências - nunca sei mais que não sei nada nada absolutamente nada mais aceita um alprazolam?  na dose de seringa? o primeiro morreu e o segundo já se foi. virão outros, mas e eu? lembrei à mãe que ela ainda não havia morrido, e por que? mais para n...

meu nome não é eva

algo sobre medo. outro algo sobre o mesmo medo dessa vez pavor do fértil quando o muco se veste de branco ódio do ciclo porque implica  mais que a morte mais que o vício  o meu tempo burlado natureza às custas do cuidado mas muito, muito cuidado com o poder supremo de criar eu sou um múltiplo - plural suprimido do discurso  pra não te assustar eu sou toda fluido flexionada como deusa única a fiat lux mas em selva de alvenaria  nenhuma auréola a expor os peitos jazem mutilados caça à solta em avenida me cobiçam cada buraco esses sem-nomes me entram secos de toques roendo túneis  boatos medievais: guardo o sexo que não me pertence não me diz respeito nem me dou respeito homens simples treinados em blitzkrieg (hoje não volto pra casa) num bairro muito escuro de luz vermelha meus olhos ensaiam sangrar outra vez a gaiola de vidro dessa vez tenho de dança...