nau dos insensatos
"- Louca"
outra vez
muito bem
repito para não ter certeza
aceito epíteto.
tal qual última refeição de um condenado -
sob uma almofada ao chão simulando pobre conforto
comprei mais um maço
e fumo com ódio.
tudo o que eu faço e o mais que eu seja
é com ódio.
de que flores você comenta?
dias ruins e piores, mas isso? isso eu?
desejo findar os desejos outra vez.
destilo à caneta azul
a saúde custa mais que a doença,
e ele? eu quero proteger da minha corruptela genética
tenho de rosa pintadas as unhas, quanta ironia.
meus gatos talvez viciados em nicotina.
e a suspensão das reticências - nunca sei mais que não sei nada
nada absolutamente nada mais
aceita um alprazolam?
na dose de seringa?
o primeiro morreu e o segundo já se foi.
virão outros, mas e eu?
lembrei à mãe que ela ainda não havia morrido, e por que?
mais para não perdoar.
quero enfeitar a cara porque essa não dá,
o que caralho eu sinto? hein, o que
diabos aos montes empunhados
eu sinto, Hilda?
por que para mim os filhotes de loucura
mamando nas minhas tetas que se avolumam
e pros demais o sexo, o sexo e o sexo,
o art deco
e o título do Lattes?
eu dispenso filosofia, mais ainda analítica
anseio o juízo final desse apocalipse de rotina
que lesão bastarda é essa que prossegue
e pulula pílulas e rasga
sem nunca ser achada?
lobo de tempestade
me batizaram em madrepérola transtorno de personalidade
interrogo que não a tenho senão determinada
e a ciência, Shelley?
sou Frankenstein de consultório particular
cujo sobrenome é sangue azul
que não escorre. sabia?
odeio a consciência e o que dela vem antes cujo alcance eu não -
não importa o quanto debata as depenadas asas
Deus, o teu reinado
tem os dias contados
não em sete.
eu não tenho o privilégio
dos teus sete dias.
eu conto tic tac tic tac
e o tic e o tac não numeram os relógios
- são eles minha sina.
tardam minhas ternas cinzas.
as vozes cálidas calibram
e sangro santo pelo útero em prece
veloz criar uma outra terra.
minha pangeia de coágulo.
descamada que resista
aos esparadrapos doutores de me sanar
a danação dos membros extremos.
não me cabem mais consultas e consertos.
as melodias me erram dedos
Gal. Salomão.
eu estou tão cansada
a ponto de dizer, tropical,
que não acredito mais em cargas d'água.
e ir embora significa apenas
convencer os cantos de que isso, e eu? me perseguem.
me viro chã e fumo
queimando até os talos rotos
até devolver o que de mim foi decepado
seu Pelintra me jurou cruz sem espada
de encruzilhada.
sonho eu a eugenia de ter sido descartada
ainda bem embrionária
e ele? eu quero proteger
mas não posso dar meu jeito no que será recordado:
"eu conheci uma garota
ela era LOUCA
acredita que acreditei amá-la?
não, eu não pensei direito
e ela? bom, ela muito muito menos"
e que outras anestesias, Baudelaire?
alguma anistia me deve ter sobrado
por caridade
um perdão qualquer circunscrito e encaçapado na buceta
as patas macias que ela viu dedando -
eu pronto lembro
o prazer é nojento e um constrangimento
e as mulheres?
elas não gozam.
eu menti meu orgasmo
mais ainda menti sobre meu corpo cimentado
eu menti compulsivamente até descobrir
que não podiam me arrombar assim a seco
o que eu quero, Plath?
chorar antes da estética me abocanhar os direitos
sentar com ela e dizer "você não é tudo isso, ridícula é ridícula tua torre de marfim"
você não é boa
você é ainda pior que eu
e as mães?
as mães nunca esperaram por filhos poetas
eu não preciso rogar joelhos prostrados que foi poesia
o que isso, eu, preciso?
o meu peito de apelo no lugar
insisto que meus mamilos saltem pra fora
e que esse maldito sol tem de amenizar
pr'eu ter um cenário digno de me acabar