meu nome não é eva

algo sobre medo.
outro algo sobre o mesmo medo

dessa vez pavor do fértil
quando o muco se veste de branco
ódio do ciclo
porque implica 
mais que a morte
mais que o vício 

o meu tempo burlado
natureza às custas do cuidado
mas muito, muito cuidado
com o poder supremo de criar

eu sou um múltiplo -
plural suprimido do discurso 
pra não te assustar

eu sou toda fluido
flexionada como deusa
única a fiat lux

mas em selva de alvenaria 
nenhuma auréola a expor
os peitos jazem mutilados
caça à solta em avenida
me cobiçam cada buraco

esses sem-nomes me entram secos
de toques roendo túneis 
boatos medievais: guardo o sexo
que não me pertence

não me diz respeito
nem me dou respeito

homens simples
treinados em blitzkrieg
(hoje não volto pra casa)
num bairro muito escuro de luz vermelha
meus olhos ensaiam sangrar

outra vez a gaiola de vidro
dessa vez tenho de dançar 

hoje não volto pra casa

sob a estratégia dos lares escuros
escuros demais
pra perceber o grito -
ventre na mira

mas houve dó:
branca, jovem e classe média
compaixão conveniente

e uma vez um acidente
coincidência 
diriam milagre mas como todos
apenas ciência 

um punhado de células 
metástase cancerígena
aglomerado com mania de grandeza

esse coágulo justifica
o açougue 
o sangue clandestino 
a lei que se cumpre em rastros pútridos 
o útero uma cova rasa:
resquícios de ser cobra e bruxa e diaba

a tarefa de preservar 
a ínfima membrana interna
que dita meu valor

pânico do corpo
a tarefa solitária de mantê-lo hostil e vazio
ocioso
até segunda ordem

interdita - 
asterisco na política 
meu medo do corpo
meu ódio do corpo

hoje nós tantas não voltamos pra casa

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