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Mostrando postagens de outubro, 2024
espero um pouco mais... deixa a voz ausente  sanar de sussurrar e os olhos se fazerem menos verdes. e minha mão adormecer da sensação  de deslizar sem nós pelo cabelo  rente à nuca recém cortado imaginei que eu o acompanharia crescer nos segundos que  sobre mim  você sorria e a realidade desandava, retorcida deixa que eu me assuma ré  por bramir o corpo demasiado atônito de  um sentir hiperativo, até mesmo estupendo e estúpido ; e por uma cabeça tão rígida que não decodifica o alheio como lógico, deitando-se a dormir sob a guilhotina miserável de nuances, só processa ou o incendiário ou o que foi reduzido a cinzas e qualquer outra vida do calor é mistério incognoscível  de modo que nunca nos sentaríamos ao redor de uma fogueira nem acenderíamos uma vela de aniversário  deixa que eu me ressinta  pela minha natureza de fugir antes da ordem de expulsão, de me empurrar ao pólo contrário onde ansiava enraizar o meu afeto. precavendo não me t...

do not resuscitate

os bilhetes nos bolsos  ou sobre móveis  são feitos de trivialidades e burocracias. não há nada romântico, poético ou estético dígitos de um documento,  números de telefone “não entre no quarto, não deixe que ele veja transfira meu dinheiro para sua conta no banco em caso de parada cardiorrespiratória, favor não ressuscitar doem os órgãos funcionais de resto, opto pela cremação  eu amo você como o que faço agora parece dizer o contrário  perdoem pela bagunça e pelo incômodo” perambulando pelo labirinto de metal com um acesso fincado na veia exigiram um familiar ou alguém que autorizasse minha saída  e tive a expressão órfã das mulheres que não têm quem as leve para casa que não têm nem mesmo casa e essa veia conectada  traduz o silêncio  e a solidão que precede o auto extermínio em massa  a evidência sucessivamente reiterada  de que não há viv’alma a comunicar antes que esteja feito eu quis te ligar, ainda que relutante, mas, com certo e...
mastiguei a expressão proibida pensando que bom que estou sóbria  e que trágico  que algo tão nobre, pra ti, se vista de exigência  salpiquei de beijos as tuas sardas nos ombros  achei que seria o suficiente para você perceber  não se beija assim  com tanto cuidado e deferência  as sardas nos ombros de alguém provavelmente já sabia, sim e fingia que não para se manter em segurança  era óbvio para qualquer um que me olhasse ao teu redor, óbvio como o que não carece de ser dito, mas continuamente é, por trás dos lábios  que se sepultam em carícias  por toda a extensão do teu rosto comove-me o menor dos gestos  que comunique uma nascente morna de afeto havia música estridente mas a casa calou enquanto eu te contemplava absorvido precisava lamber teu suor fino levemente salgado  precisava beijar solenemente  centímetros impopulares de ti precisava me sublimar  na tua sombra precisava estar descalça  sobre teu chã...