espero um pouco mais...
deixa a voz ausente
sanar de sussurrar e os olhos
se fazerem menos verdes.
e minha mão adormecer da sensação
de deslizar sem nós pelo cabelo
rente à nuca
recém cortado
imaginei que eu o acompanharia crescer
nos segundos que
sobre mim
você sorria
e a realidade desandava, retorcida
deixa que eu me assuma ré
por bramir o corpo
demasiado atônito de
um sentir hiperativo,
até mesmo estupendo e estúpido;
e por uma cabeça tão rígida
que não decodifica o alheio
como lógico,
deitando-se a dormir
sob a guilhotina
miserável de nuances,
só processa ou o incendiário
ou o que foi reduzido a cinzas
e qualquer outra vida do calor
é mistério incognoscível
de modo que
nunca nos sentaríamos ao redor
de uma fogueira nem
acenderíamos uma vela
de aniversário
deixa que eu me ressinta
pela minha natureza
de fugir antes da ordem de expulsão,
de me empurrar ao pólo contrário
onde ansiava enraizar o meu afeto.
precavendo não me tornar um cancro
cuja metástase tomaria tua vida
por isso, deixa esmaecer
as vezes que eu disse algo
te fazendo rir no tom exato
que me esperançou que talvez
você se encantasse –
e apenas brevemente cruzasse
a maneira apoteótica
ridiculamente frágil
como eu te engolia
é verdade que eu nem cheguei
a te apresentar várias
das minhas coisas favoritas
antes de te notar embrião de uma delas
também eu não compreendo
as variáveis envolvidas
em transmutar-me isso
que se atira contra os teus dias
e pesa sobre teu peito durante sono
simultâneo alvo ambulante
desprovido de defesas
como quem explode a própria
câmara consigo dentro
– mas suponho que tenha
algo a ver
com o shell shock
dos últimos anos quando
o horror fica gravado na esclera
e o mundo é por ele filtrado
procurar um lar quando cessou o
bombardeio ainda
carregando no colo os próprios
intestinos
e se curvar como um cão de rua
para receber um afago
que se julga não merecer
bastarda de um tempo mutilado
que garante que a chance acaba na esquina
mas talvez se você apenas
tivesse pedido que eu ficasse
mais alguns minutos pela manhã
ou que fosse sentar à tua cama
para ter aquela conversa
ou apontasse minha incoerência
com os dedos mais úmidos
o que poderíamos ter sido
faria muito silêncio –
não fosse noite,
não aparecesse eu à tua calçada,
moderadamente dissimulada,
perguntando
o quanto de ti é capaz de caber
em frívolos cinco minutos
e em –