Postagens

Mostrando postagens de julho, 2021

a você, quanto eu ainda estou eu.

  essa carta é pra você, enquanto ainda resta um pouco de mim, do que eu acredito que sou quando minimamente no controle. talvez você pense que é apenas antecipação sem evidências, que vai ficar tudo bem, que eu vou ser capaz de segurar as pontas. de qualquer forma, eu preciso me assegurar que você saiba de mim, de nós, no caso de eu perder novamente a cabeça. é possível que os sintomas me consumam de forma que eu me faça quase que irreconhecível; entendo que você não possa imaginar esse panorama porque, graças a "deus", não esteve aqui antes de eu me equilibrar um pouco. você me conheceu sob acompanhamento, quando as rédeas me mantinham no prumo, apesar dos momentos de pico e urgência. mas perto de como era antes, totalmente solta e sem capacidade de administrar as emoções e os comportamentos, todas as crises que você presenciou são irrisórias. tenho medo, estou com medo. não quero retornar ao estado que mais conheço, mas por favor, eu imploro que lembre, eu não tive escolha...

cavalos impressos

enquanto marchava em direção à forca donde em breve meus pés pêndulos frouxos no ar e meu corpo como um saco que se esvazia num estalo seco percebi a mesquinharia das minhas antigas angústias em que me doía por simplesmente doer sem objeto específico justificável eu sempre achei que as carências já presentes eram o bastante que não haveria de existir gravidade maior invejei aqueles que nascem em berços que ganham a vida previamente de graça me cobri de inteiro preto em cidade litorânea juntei na mochila todas as químicas possíveis e pretendia pendurar as pernas no décimo sétimo andar  enquanto o torpor me possuía como um demônio calado me arrependi de não ter deixado o desespero pra agora me toco de toda dor que não valeu seu sentido de todos os anos na cama pensando já ter alcançado o chão agora o chão evapora e eu não termino de cair ontem eu vim pra casa na traseira de uma bicicleta azul com um poeta de moletom ele me olhava fixo se alguém sentiu vergonha ou virou o rosto fui eu...

fático

  feito carícia no ar, una com ele, a dissolver- ausente de escândalos, carpidarias ou vestígios irresponsáveis como aquilo de caráter previamente sabido como perecível, e que portanto assume seu destino bem-vindo pelo éter. o deixar-de-ser da maneira mais volátil desmanchando a matéria pesada e feia não mais como alguma coisa qualquer que interpela o caminho, mas como partículas que se confundem obtusas com a poeira cotidiana, erguida das avenidas quando os carros correm apressados, e as pessoas passam com seus itinerários atribulados, enquanto me forço fosca indissociável do ambiente pluralício como o que ainda possui calcanhares e os gira de volta e em torno do princípio, antes que tais mesmos calcanhares fossem concebidos pelo ventre autoconsciente. que eu não implore mais por favor, pare. que eu não espere mais, por favor, mudança. que não mencionem mais que em mim o pudor era raiz e as chagas foram a flux, exatamente como foi esse corpo tudo o que já houve de...

[disponha]

  arrisco qual bala profusa em chamas contra o mais árido e mormaço desse horizonte urbano tremulante que só se permite no embaço minhas costas gritam socorro rouco aos rasgos e não há carapaça ou anatomia que resista cozinho enquanto cruzo esquina meio extinta de mim para ouvir o disparate perverso das buzinas (comunicam-se nessa língua os predadores sobre dois ou quatro membros) deles um papo vadio tripudiando sobre devorar aos grandes olhos uns regaços lobos regados de olhos escondidos lobos escondidos de olhos regados loucos regaços de olhos negados loucos negados nos olhos de lobo escondidos nos olhos regaços eu quero dizer ao disparate anônimo que ele não se daria se soubesse o que carrego nos bolsos do short camuflado (que não basta para disfarçar minhas coxas e mais acima mais ao meio. é isso que eles veem. uma parte pelo todo num esquartejamento maníaco) se soubessem que essa tala ortopédica falsa cobre a auto-injúria da deformidade paralela dos meus pulsos...