fático

 feito carícia no ar, una com ele, a dissolver-

ausente de escândalos, carpidarias ou vestígios irresponsáveis

como aquilo de caráter previamente sabido como perecível,

e que portanto assume seu destino bem-vindo pelo éter.

o deixar-de-ser da maneira mais volátil

desmanchando a matéria pesada e feia

não mais como alguma coisa qualquer que interpela o caminho,

mas como partículas que se confundem obtusas com a poeira cotidiana,

erguida das avenidas quando os carros correm apressados,

e as pessoas passam com seus itinerários atribulados,

enquanto me forço fosca indissociável do ambiente pluralício

como o que ainda possui calcanhares

e os gira de volta e em torno do princípio,

antes que tais mesmos calcanhares fossem concebidos

pelo ventre autoconsciente.

que eu não implore mais por favor, pare.

que eu não espere mais, por favor, mudança.

que não mencionem mais que em mim o pudor era raiz e

as chagas foram a flux,

exatamente como foi esse corpo tudo o que já houve de sujeira,

que foi antes invadido que habitado, mercantilizado em mendicância

e, como eu já perdoei o que chamaram de má sorte

e de epigenética condenada,

permitam-me deixá-los em silêncio

que só esvaia sem deixar colchetes esgarçados em feridas

que Ela siga queixo avante, como antes de eu errar acesa

que meus acúmulos de pequenas tralhas sólido-afetivas

sejam distribuídas entre os que a mim também segurariam

com as mãos em concha

que minha carne não seja lacrada

nos confins da terra onde alimente vermes já obesos,

mas que eu seja drenada e que,

ao abrir minha crostra inóspita,

em erótico-grotesco,

o que jaz potência seja semeado em inocentes

e tenha outra vez vida,

servindo aos ciclos irreprimíveis do universo,

que eu sorria o sorriso de quem me recebe,

que eu adentre as entranhas de algum anjo,

que meu sexo se purifique nos orgasmos alheios,

e, já que essa ideia é uma oração esparsa,

que nem a penumbra noctiva seja capaz de me rememorar.

deixe-os viver através dos meus resquícios

deixe-os sorrir a partir do meu ricto

deixe-os em paz por causa do meu descanso

e então eu serei enfim bonita no anonimato

vocês dirão que meu sorriso era quente

e quando solitárias lágrimas cuidarem bem de evaporar

não desconfiarão seu objeto

sendo eu apenas uma sensação pré-reflexiva,

e também o chacoalhar dos galhos,

o sopro marulhento às altas noites,

a areia fina que adentra os sapatos,

a onomatopeia dos estilhaços de vidro pisados

e a vermelhidão ocasional das estações

e o punhal erguido será um graças-a-deus descansado sobre a relva

como uma luminescência que se extingue

sem restar qualquer saudade feérica

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