cavalos impressos

enquanto marchava em direção à forca

donde em breve meus pés pêndulos frouxos no ar

e meu corpo como um saco que se esvazia num estalo seco


percebi a mesquinharia das minhas antigas angústias

em que me doía por simplesmente doer

sem objeto específico justificável


eu sempre achei que as carências já presentes eram o bastante

que não haveria de existir gravidade maior


invejei aqueles que nascem em berços

que ganham a vida previamente de graça


me cobri de inteiro preto em cidade litorânea

juntei na mochila todas as químicas possíveis

e pretendia pendurar as pernas no décimo sétimo andar 

enquanto o torpor me possuía como um demônio calado


me arrependi de não ter deixado o desespero pra agora

me toco de toda dor que não valeu seu sentido

de todos os anos na cama pensando já ter alcançado o chão


agora o chão evapora e eu não termino de cair


ontem eu vim pra casa na traseira de uma bicicleta azul com um poeta de moletom

ele me olhava fixo

se alguém sentiu vergonha ou virou o rosto

fui eu

abri o portão como uma adolescente ressuscitada, 

e subi as escadas como uma adulta falida


fazia noite nas ruas vazias e eu

deveria sentir medo como sempre, mas não

agarrei o cabelo comprido como a crina macia de um cavalo impresso

e atravessamos avenidas que eu não vira detrás do fumê e do rush

desci a máscara e permiti que meu nariz gelasse com o vento da cidade 

que eu desconhecia

eu não sei nada dessa cidade

eu não sei nada de bicicletas ou cavalos

eu não sei muito mais de mim ou dele


eu era apenas a guria escura na garupa que desbravava o impulso hibernante


pesei para não me apressar

eu devia me exercitar e usar essas pernas para mais que chutar o vácuo em convulsão

eu devia ser capaz de correr-


eu devia espiralar esse corpo numa valsa ao invés de uma descendente como alice no buraco


meu nome é gabriela com o fricativo e a ruptura no meio

mas eu serei bárbara ao assumir que cresci

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