o nó que segura a mão

sim, eu

ando distante de tudo que é isso.

tentando não usar termos imprecisos

como isso ou aquilo

tenho buscado não falar

exatamente como estou falando

mas ao mesmo tempo tenho me tornado

palavras soltas sem marcas, indicações

precárias de uma outra mulher

ímpar e vibrante, que não

admitia tombar no discurso

como essa ou aquela ou

ultrajada em diminutivos 


sim, eu

tenho sido

eufemista 

rompido contratos com os outros

frágeis fios do eu

cedendo ao valor de

feminina

que postula modéstia e economia

às quais outrora esbravejei escar(céus) 

na via oposta

e venho comendo os restos

dos pratos servidos a homens

já satisfeitos


eu tenho fumado como um 

velho homem, velho

elenco assim

sentado na varanda

os lamentos

como sombras atômicas

agora que o ninho se foi

e a hora se foi

e o sexo se foi,

depois,

também eu tenho ido, em círculos,

em busca das burocracias e documentos

imprescindíveis para atestar

que eu respondo por pessoa física

a uma pergunta jamais articulada

e todo o ruído

que me mais-valia 

subjaz como utopia

que eu sepulto sem cortejo fúnebre ou

condição de autoria.


tenho me perguntado sobre onde

diabos foram

parar os sonhos de vir-a-ser, já que

dos sonhos e dos diabos

sossega apenas um 

desejo onírico de erradicação


numa voz enrouquecida tomada

pela reminiscência de uma tez

elétrica como circuitos em pane

que não ornam com a ideia

de manutenção, eu


tenho esmurrado paredes,

como se mais sólida fosse,

e notado dores

onde nem mesmo havia corpo

e tomado nota

que há um corpo por lógica

quando as dores são as mais sólidas

das paredes


tenho me anteposto aos rótulos

e me reconhecido espécime elementar

um sistema básico de

substâncias sequenciadas

em rudimentar desarmonia

e me contentado com o fato

de que essas pequeninas evidências

ainda que plausíveis justificativas 

não pertencem à coisa pública

são um cotexto de moldura, uma

nota de rodapé, um

asterisco solitário

que não cabe no diálogo, 

no currículo ou na oração


tenho rogado a existência

de deuses oniscientes

para que me concedam a graça

de lhes, devidamente, 

amaldiçoar 


e espatifado quinquilharias

rasgado velhos tecidos

matérias baratas ao léu

às portas e janelas fechadas,

preocupando-me o isolamento acústico

pois dessa forma o vizinho não ouviria

e questionaria por curiosidade

"dona maria,

o que raios tem acontecido

com essa menina"


tenho enfiado os pés em sapatos 

negros sob os sóis

numa cidade onde cérebros 

tostam como miúdos 

que seriam oferecidos sob a égide

de comidas típicas tropicais

e interpelado o passo

curto entre o horário

no meio exato do viaduto

e pensado abaixo sobre

o quanto deve estar queimando 

súbito aquele mesmo asfalto

numa cidade onde cérebros

negros como os sóis

soldam os asfaltos

sem interpelar os passos

de gentes. com horários.


e sim, eu tenho

angariado à vista

algo mais que despedidas

não tenho mais 

dito nunca mais

e tenho saído

prometendo ao vasto que vou

voltar e virar o suplício

em piada, virar o rosto

quando varia a lágrima, virar

o torso quando desata o vício

balançando sem ritmo

sem viço, gaguejo e torço

esse fiel pescoço

tenho saído

sem que haja casa

angariado à despedida

menos sacrifício

a fim de evitar os termos

imprecisos

que tenho isso ou aquilo

então tenho saído em ciclos

afim torcendo 

que esse fiel pescoço

vai ele mesmo desatar o nó

da mão, o nó

que segura a mão

- sim, tem ela lançado uso

desses trançados trocadilhos

eu, não.

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