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Mostrando postagens de maio, 2024

moinho

uma vez, escrevi suja e, quando em nudez, você desviou o olhar para não ler. ainda assim, beijou as coxas, onde existia a palavra , e seus entremeios época dourada em que a pele era gentil com o toque e os corpos eram mutuamente obcecados -- caso de conjunção metafísica e etérea  a maciez dos diálogos a nível de carícias verbais e nosso asilo inviolável ficava no interior do presente absoluto  -- estávamos-no-mundo bem no meio da festa -- dessa fissura na temporalidade compartilhávamos a infinitude do imediato. eufóricos. agora, há dissonância por microscópicas ranhuras e com quereres ambivalentes revelamo-nos outras pessoas -- muito de nós foi suprimido, feito sujeito elíptico, em busca de suscitar o amor no outro  e assim relegamos ao segredo excertos fundamentais.  sangra a hipótese de que, caso nos deparássemos com essa inteireza,  que inclui os elementos incongruentes com o desejo,  não duraríamos a nos olhar. agora  nossas trocas são insuportave...

l(a leaf falls)oneliness

sim, agora que você foi mais hostil, eu entendi. não mais pertenço a esse lugar,  uma vez que você não cuida para me manter presente e me fornece sucessivamente sinais de que não caibo aqui, não sou bem-vinda ou relevante  sinais tão claros e recorrentes que não se justificam por outro motivo senão intenção deliberada. eu não posso mais modelar escusas que me convençam  de que você não quis dizer isso, você não quis soar assim está apenas enraivecido momentaneamente  ou que é o cansaço do dia interminável  ou que você é naturalmente desatento ou que suas habilidades de comunicação interpessoal são escassas ou que de fato eu ajo como uma cretina sem me dar conta eu não posso mais relevar e fingir que não aconteceu, porque não cessa de acontecer outra vez pior . eu não posso continuar acreditando na sua palavra de que a má intérprete sou eu ,  sou eu que não tenho a disposição para entender sua perspectiva  e por isso tenho de conceder o benefício da ...
escrever tem se tornado um peso horrível  escorro as mãos pelo rosto. mesmo a leveza rasga -- há partículas de vidro sob a pele como minúsculas pétalas brotando das feridas  decerto há certa estética nesse estrago  tem emergido outra vez o que eu jurava estar extinto esse bramir da Angústia que me torna episódio de pessoa que só reage na urgência  sim, eu estou furiosa . ainda que eu me odeie não suporto que você fale assim comigo por isso dou as costas -- mas você me segue, esbravejando que saí de cena  e então me arrasta de volta com suas conclusões destemperadas assim nossas silhuetas dançam grotescamente pelos cantos dessa pequena casa,  apontando dedos contra os rostos contorcidos reclamando respostas imediatas, acusando performances ensaiadas. - o que você fez , você me pergunta,  - o que você me fez fazer não lembro de assim te conhecer, esse você nunca passou pela minha cabeça  que tom é esse que se engendrou nas suas palavras  essa f...

hoje você não disse boa noite

não percebi as horas passarem enquanto você se empenhava em me verbalizar os motivos da sua partida, como se os houvesse ensaiado, um discurso canônico, na ponta da língua. cada movimento do meu corpo te irritava. você repreendia meu choro por estar interrompendo o monólogo e tentava controlar cada expressão minha pra que fosse o mais conveniente possível pra você -- minha convulsão agonizante era um ultraje à sua oratória -- mordi meus braços para permanecer quieta -- me exigia tornar mais discreto o burburinho fisiológico (que implorava pelo amor de deus algum nível de previsão) mas prematuramente eu supunha onde você pretendia chegar. - - quase pedi perdão por estar ferida -- enquanto você me assistia, impassível, escalonar até o limite do pranto desesperado. recolhida ao chão, com suas palavras a me encurralarem. inofensiva.  então finalmente pronunciou que estávamos acabados, mas deixando propositalmente ambíguo -- tenho absoluta certeza que você sabia o quanto isso me dilace...