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Mostrando postagens de novembro, 2024

é assim que te olho

não houvesse colonização sobre a terra ou vestígio a esmo de vida inteligente  civilizações inteiras padecessem soterradas mas, antes, uma única silhueta – em seus ombros largos e invulneráveis ao grande silêncio do universo –, que me dita a natureza do próprio gene. – é assim que eu te olho. sou capaz até mesmo de esquecer  o que fazem os homens . e te fitar como uma espécie à parte que volta e meia, um acidente, mimetiza um gesto ou outro  dos seus antepassados. cresceram teus olhos voltados para dentro . e aquilo que sujo vês, que pensas indigno e pecha merecido converter-se em segredo – isso também de ti eu quero. tornar-me então uma visitante assídua do que você mantém entre grades estender a mão aos teus lobos receber no colo teu corpo de guerra seja encardido seja profano, trilha seca de sangue arcaico, feridas a flux destinadas à infecção,  os calos nas mãos ásperas como ímãs ao próprio pescoço – misturar-me à sepse como a mulher que não se curva à morte q...

ss

quão radiante é a arte do desprezo . ouvir teu nome sem tremer em horror, e à tua tez não desejar aninhar macio os olhos, chegando até a rir do mal que foi feito. diante de ti, ser como se encara um verme ou forma banal de vida primitiva que não suscita o ódio ou a revolta apenas a convicção radical de que  a pequenez, tal como a articulada demência, também integram o ecossistema. admitir que, no crime, tornaste muito fácil o meu desprendimento do afago e esquecer-me de ti mesmo durante a madrugada, quando as feras abocanham a própria morada. fizeste-me imune às fisgadas densas de saudade, poupando-me até mesmo de almejar uma realidade menos acre. a verdade é que tu mesmo arrancaste o amor que me pulsava o sangue aos membros ainda que durante o nefasto do ato tenha-me rompido algumas costelas. aceito-me esfacelada, labirinto de lesões, que ainda em tal estado de arquejo e síncope  eleva-se a engolir a tua imagem como freya banhada em ouro por suas lágrimas. sou, então, aquela...

ridículo

ridículo é sobre ti escrever  ainda de pé e desnudada diante de, transbordante os arrepios na espinha, ré da tua confissão sobre um afeto embotado . e, quanto a isso, não te abordarei. jogo sobre os ombros meu manto de espinhos para te absolver de qualquer gérmen de ideia de dever para comigo. ridícula é tal euforia elétrica que me percorre e eriça os pelos mais ocultos  quando tua imagem estática, estéril, me aguarda frente ao portão. esqueço. o automático da respiração  esqueço. como se modulam os músculos das pernas para caminhar – e só conheço como usá-las  emaranhadas  ao redor da tua cintura. ridícula é minha alegria, doença autoimune, quanto ao teu fugaz e volátil e de soslaio olhar quando em ti estou  montada  (e desvendando, honrada, o mover meu que mais te apraz) rezando para que não tão veloz ele se dissipe e que algo dessa vista te agrade e, mais ridícula, convenço a mim, murmúrio ao pé da minha orelha, de que são provas suficientes micr...
venho esquecida de mim enquanto a flux, venho esquecida  restam, para me guiar, apenas contos populares, demasiadamente orais – com seus deslizes interrupções  e vícios de linguagem – daqueles que tangente riscaram,  daqueles que evadiram, aos apressados tropeços, do horizonte decrépito e ermo, da terra arrasada por uma guerra particular. os papéis de parede outrora delicados jazem descascados entre perfurações na alvenaria  de socos e chutes de quem quer ardentemente romper o acordo com a realidade e obliterar as trincheiras que construíram o presente. pequeninos feixes paralelos na estrutura,  são filhos de unhas roídas  gritando ao material alguma tirania do hábito. espelhos estilhaçados propositalmente, cujas molduras se mantêm  intactas. e suspensas  e as provas de vidro que não foram recolhidas, testemunhas do que se sucede ao pronunciar três vezes o próprio nome mediante reflexo. não havia como ver a mim.  em verdadeira forma, despid...