teu suor me batizasse,
tua semente me ungisse.
e no abismo da faringe, transbordasse
meu calar.
à sinestesia de uma cerimônia,
inalo tua testa, duma fragrância metafísica
cujos captadores só desenvolvem
aqueles destinados a amar violentamente.
trisco os lábios nos teus cílios
tremem, tímidos, teus olhos fechados.
temendo te acordar,
te acaricio com dedos feitos de pena.
teu ressonar enrubescido é meu ruído branco.
balbucia um euteamo e não sei
se você recorda mesmo quem está ali.
inconsciente, arremessa braços pernas
na inteireza semi obscena do instante
em que, envolta pela tua carne,
respirando abafado quase entre tuas vísceras,
estivesse eu em um casulo de ti.
ao teu redor, o mundo
é um detalhe ossudo
e pontiagudo
do ofício.
eu mariposa medíocre
em sua filogênese amaldiçoada
de espiralar rumo à aniquilação
na luz carmesim que só você emite
ao final do meu túnel.
cumpro minha curtíssima vida
de tentar te alcançar.
anseio dizer sou sua
faço-o sentada e salina sobre teu torso
e tua resposta
aborta-se na boca entreaberta.
ao corpo nu, visto as palavras de armaduras.
protegendo-me de receber tuas recusas
em sílabas.
penso que é pessoal.
sou eu
que te assusto e afugento
e portanto essas desculpas adocicadas
que você tem para si mesmo.
sou, ainda,
tua liberdade e certeza
de dizer não de imediato;
certa natureza elíptica da repulsa
pois que o contrário
seria muito trabalho;
a escolha que você não faz,
e a coragem de abrir mão.
você – a dúvida que paira como um corvo.
em consolo, a cicuta
que eu mantenho no bolso.
e por segurança,
o meu cuidado de não esquecer
nenhum objeto pessoal
nas suas prateleiras.
afinal, não te preocupes.
em caso de risco,
providenciarei que seja
como se eu nunca houvesse existido.