13 milhões

tentei de novo. o gosto criando a boca.
não um abreviar dos anos
mas uma mercantilização deles.

e o que deveria manter-se no impessoal
culminou em química preta - grogue e indinstinta.
grogue e indistinta - não sei onde terminam meus membros.

tentei de novo; o oposto
dos meus esforços diários
e agora torno, a cara inchada por explodir,
ao meu ponto de partida, 18 anos.
mas nada mais tenho que me lembre
as promessas por se cumprirem, 
o extinto privilégio da dúvida 
o tempo a meu favor - meu deus mais próximo,
onipotente. dionisíaco.
meu amado baco
foi nada mais que traído.

salto meu próprio esqueleto envergado 
prostrado sob a suposta dignidade que confere o trabalho.

eu me vendo custe mesmo minha ideia desbotada 
desbocada 
de alma.

e me disponho à mais vagabunda pechincha.

levem minha mão de obra, 
e o que mais pareça serventia mercadológica. 
me levem a voz doméstica, minha mal passada carne
prostituída nesse currículo vago.

decepem meus membros flácidos
inacabados e ansiosos por serem declarados úteis 
e necessários. 
bons o bastante para o cargo.
um algo com finalidade 
e não embriões de asas sacudindo ao relento
rogando significação.
o voo vetado - meu rastejo hábito.

recordo meus sonhos-criança
tão fiéis aos dias
agora filhos da ferrugem e do fantasma.
em epifania eles rangem 
como medievais portas que não devem ser abertas 
e outros atormentam 
como antigas ideias que exigem não serem incomodadas.

contei minha vida restante a partir de cada semestre e disciplinas reprovadas 
assegurando nenhuma afinidade
exceto com meu auto desprezo comum.

e na víscera do furacão eu já não posso
improvisar qualquer escape sem sofrer
todo o panorama aberradamente desfigurado.

o espectro do dispensável e do fracasso emoldurando meus espelhos
o constante "não" que me come os olhos rossos 
cada estranho atrás da mesa com o poder
de me assegurar incapaz -
até que desisto de contra argumentar.

esgano minhas dissonâncias,
engano meu desgaste
com batom vermelho.

minha reivindicação não ganha micro nem megafone, 
já que existem injustiças maiores e unânimes 
e o coletivo é outro. a afronta é outra.
não sei como lutar por um "nós" quando não sou parte dos motivos de revolta.

meu desalento na foto 3x4
esfregando óbvias as lacunas da minha carteira de trabalho -
carcereira irrevogável.

eu amava sanguinolentamente minhas fantasias profissionais
até que cada uma dessas minhas paixões
adquiriu valor de obrigação.

inferno que seja, não sou pauta.
nem a política 
tampouco a poesia
lembram de mim -
da carteira vazia no meio do mês 
dos remédios em dívida e das compridas notas fiscais
dos cheques nada nada especiais.

não me fomento entre os gritos
que interditam as avenidas e ecoam nos cartazes improvisados
ou nas pichações passionais.

e enfim meus bens mais preciosos
se converteram na mais desiludida herança 
testamentada
nos textos impressos em fuligem e poeira -
castelos improvisados de albinas traças. 

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