e tenho esse olhar de mil jardas
de repente, os estímulos empalidecem. eu posso ouvir o roçagar de seu pesado manto negro. permite que o grande cão a guie, chocando, vilíssima, as correntes que o contêm. e, por sob o capuz, não há feição alguma. de repente não me recordo por que aquilo me fizera sorrir noutra manhã. os comichões de velórios passados são agora como uma colônia de saúvas. eu ensaiei esse ato e tenho prontos cada um dos diálogos é minha caligrafia ali, mas não parece ter sido eu que os escrevi. como se, não alfabetizada, houvesse sido forçada a desenhar cuidadosamente as letras para me coagir. eu já estive aqui um milhão de vezes e mesmo assim o solo parece intacto. eu posso ouvir seus murmúrios e embora saiba que podem não ser verdades, são insuportavelmente reais suas pronúncias. seu conteúdo faz sentido num ímpeto, a modo de eureka. eu sei que ela está aqui, agora, respirando pesarosamente no vértice deste quarto, imóvel, e que move seus dedos como quem toca um piano imaginário...