carnaval

nossa última viagem
em nada comunicou-se com a primeira.

numa barraca minúscula 
você a anos-luz de mim.

eu sabia que muito você escondia
e tu não suportavas o quanto eu expunha.

escolheu então as estrelas acompanhadas de umas cervejas,
eu fiquei a sós onde seria nosso encontro,
nosso encanto, 
contando minhas estrias.
até rolei para dentro os olhos -
e como era outro meu corpo enquanto nós...
não podia nem sequer me dizer eu.

quando você se deixou cair sobre o colchão,
pelo sono, e não por mim,
me virou as costas acostumado.

mas eu, igualmente acostumada,
contei dedo a dedo os teus sinais
e as gêmeas estrias nas tuas costas
cheirei tua pele pura noite adentro
e soube, mas neguei, que não existiríamos mais. mas neguei.
eu neguei até o fim, ralhei comigo mesma,
imperativa me ordenei tentar
e aos rodeios quis mesmo coagir
dizer sou eu, sou eu,
aquela por quem você se apaixonou
aquela que você tanto se esforçou pra cativar
uns tantos anos às costas,
não muitos, mas o bastante,
pra que eu dedicasse cada anseio ao teu ego
pra que eu me adoentasse por não ser escolhida em alguns dias
pra fazer parte dos teus textos
pra que eu fosse tua ereção e teu grito
(logo você que nunca grita)

eu lamento por te induzir a escarlatar umas vezes sem conta
era apenas meu sonho implorando
um pacto na tua carne.
mas eu insistiria de novo. e mais outra vez.

uivos de aurora e suas conversas nem me envolviam,
eu parecia adjunto, um acessório descontente,
um oblíquo que você arrastava
sem saber como manejar...

esperei você ressonar 
e me deixei liquidar
amando de novo tudo o que não havia se perdido na passagem do tempo
que nos transformara naquilo ali
mesmo que estivesse frio, tão frio
frio como guaramiranga em março 
frio como teus toques rápidos só quando requeridos.

na sua ressaca, seu corpo pesado,
as minhas ondas de memória me desmoralizavam. 

seus amigos riam e eu os acompanhava 
mas aquela alegria não me pertencia.
e acanhada ninguém me entendia
porque aquele luto não era exato nem mesmo pra ti.

e imagino que não seja tão lindo:
você ficou com meus gritos
e eu com teu calor sem dono.

já faz outras flores e tons quentes,
já tem alguéns, talvez, pra você 
mas meu corpo zerado
prossegue num parecer errado
como se faltassem mãos e peles
e mãos e peles faltam mesmo e eu não cuido das lesões pois foi só 
o que pude agarrar 

e esses órgãos nulos que ministrei, a muito custo, 
ainda pulsam e ainda saltam
ainda murcham e ainda enrugam
girassóis voltados pro escuro
do oposto onde você decidiu estar.

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