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Mostrando postagens de 2020

inveja

de  quando discute capaz da apatia e da completa blindagem aos apelos   que tomam  mulheres caquéticas pela incerteza. tenho inveja  desse  desafeto naturalizado. da selvageria infligida, de como a concentração na mesquinharia cotidiana  não se prejudica dado que a combustão dos sentidos lhe é estranha, desconhecida. de como uma oralidade pode ser  (e é)  incongruente com todo o paraverbal — você também já viu quando as marcas da brutalidade se camuflam no sofismo. inveja, sim, dessa imunidade . de como se é ausente vis a vis. e toda emoção dormente é proclamada ira e posse   assim fazendo de mulheres suas propriedades sujeitas ao vilipêndio. a ele não tocamos embora ele  conquiste a entranha  sem pretender mais que um gozo intermitente. como se corpos só ocos pluriformes fossem — mesmo aquele  aquele que pretendeu se fazer ninho.  e tanto rasga e arranha uma ferida — essa ferida desde o iní...

uma vez que os esquemas vêm primeiro,

uma vez que os esquemas vêm primeiro ojeriza ao uso de uma palavra. “amor” — cospe no chão. é tão ridículo e vergonhoso como enfiam essa porra em cada vértice interlocutório. queimem vocês viciados em fabular sobre isso. tantos outros temas e vocês mentindo porque a carência é unânime.  é apego imaginativo, vontade de transcender a miséria em torno. fica o vocábulo estrábico, pífio, pétreo. prolixos como proparoxítonas. sim, vira uma entidade folclórica. verbo sem comportamento. eu mesma. raramente amei embora me tenha convencido. uma vez que os esquemas vêm primeiro — busquei validação. e isso não é pouca merda. ainda não sabia que eu era acometida do fenômeno de não existir em primeira pessoa do singular, então atravancava uma primeira pessoa do plural. porque só me concebia existente diante do outro, um qualquer outro, apenas quando avaliada como propensa a pessoa viável. e isso me impunha frente à necessidade — e com sorte ao desejo do outro, um qualquer outro. ...

desejo vulgar se fez ofensa

desejo vulgar se fez ofensa revestido de reminiscências e recusa  da memória, da memória de longo prazo da qual é capaz à carne. o corpo medievalmente estupidificado ao corpo que limitam ao estético e ao prazer. qualquer toque é aquele toque dos 15 anos assaltados de vida posterior qualquer um é ainda aquele homem qualquer presente é ainda aquele ontem e por isso me espasmo na esquiva descarna nojo como sintoma dissecaram dimensões da sexualidade. uma subespécie sem sexo uma lesão isenta de cura uma culpa sem conhecer origo uma imundície sob a derme que não aceita assepsia. mutilada do que é uma mulher sob a solidão de não prestar para o orgasmo sob o império da negação  e de contemplar o fracasso eu ainda proclamo o sim derrotada pela obrigação de simular o gemido. mas o tremor nunca cessa de ser verdade.

sub

Drogas e dezembro. 11h da manhã. Venlafaxina, lamotrigina, quetiapina, hormônio sintético. Alprazolam numa dose mais alta que a habitual e não recomendada. Nicotina, alcatrão e todos os venenos mais. Cafeina, cafeina. Não deveria, inferno. O que sobra uma mulher, o que sobra uma mulher fazer. Meu coração (desgosto da palavra pela simbologia tosca ingênua, mas) bate acelerado, acho que perigo. Bjork, agora, sabe. O que acontece então com esse corpo, a que ando submetendo esse corpo. Corpo coitado, coitadinho... sinto muito, sinto muito por mim mesma, pelo que tenho me feito. Mas.. o que mais, por deus? Pelos diabos todos eles. Tem uma ponte do torquato neto que não lembro bem, mas diz e diz. Repito os termos porque não lembro e o intenso só pela ênfase. Minha nossa seconal... quem dera um cianeto e algo sutil e simples. fluido. Futilidade e fugaz. Entorpeço os mecanismos que deveria organizar e tenho me esforçado tanto, bebido 2L de água, sabe eu preciso, mas nenhuma energia me a...

você também devia saber

penúltima misericórdia  nos sinais marginalizados de uma pele arregalada fonte donde toco a cor coagulada  e então no prurido crônico  de placas inflamadas e ásperas  numa familiar carcaça-carapaça  disparo contra estética  e contra ideal de belo enquanto desapoderada  aí que raia o interno de veias assimétricas  arranca-se raiz a fio os cabelos dourando em escarlate um assoalho ancião  que recolher meus trechos  tanto já me testemunhou   e envelheço um quase cadáver  ponte para o pútrido que se fez ainda ou já (?) aos 23 elevo a voz e o soluço  porque onde há terror. tem de haver denúncia. até nas oscilações avulsas que estranhos me garantem em arrogância  “essa não é você” como que ruína intrínseca  ofendesse mais a paz alheia. ouvi dizer ainda miúda  que há lugar na expectativa pública  onde caibo, enfim. lugar esse que não é de afago nem de lar mas alas d...

horror vacui

o estupro tomou meu corpo e hoje sou uma inquilina um parasita frágil me mantendo viva através das sensações neblinadas  e da supressão de memórias o estupro se apropriou da massa deformada (e não há nada mais nojento do que um corpo que se escorre) da pele que se estende com repulsa (e a ela abro porque não há mais o que possa ser aberto) e a erogeneidade encerrada em caixões de chumbo  resvala mais funda que qualquer vítima de radiação  é de uma dormência ardida em que — mesmo ao encontro da gentileza de uma língua  contraio seca. expulso espasmada como subserviente à ferida antiga que a fisiologia garante cicatrizada. tardei entrar em contato até que  as convulsões de uma febre anômica   se embrenhassem em cada ponto ensimesmado ramificando em capilares  toda a recordação encarnada  à prova de verbo e recusa tardei. agora o crime é o que preenche ao tomar matéria e novas habilidades  fazendo meu corpo ...