uma vez que os esquemas vêm primeiro,
uma vez que os esquemas vêm primeiro
ojeriza ao uso de uma palavra. “amor” — cospe no chão. é tão ridículo e vergonhoso como enfiam essa porra em cada vértice interlocutório. queimem vocês viciados em fabular sobre isso. tantos outros temas e vocês mentindo porque a carência é unânime.
é apego imaginativo, vontade de transcender a miséria em torno. fica o vocábulo estrábico, pífio, pétreo. prolixos como proparoxítonas. sim, vira uma entidade folclórica.
verbo sem comportamento.
eu mesma. raramente amei embora me tenha convencido. uma vez que os esquemas vêm primeiro — busquei validação. e isso não é pouca merda. ainda não sabia que eu era acometida do fenômeno de não existir em primeira pessoa do singular, então atravancava uma primeira pessoa do plural. porque só me concebia existente diante do outro, um qualquer outro, apenas quando avaliada como propensa a pessoa viável. e isso me impunha frente à necessidade — e com sorte ao desejo do outro, um qualquer outro.
à multidão era viva a rotina, o sono, a distração.
eu nada disso. e portanto sou doente?
por me magoar a tranquilidade e independência alheias, e me revoltar que o massacre privado eliciado por eles não os afete também?
quando você duvida dos meus relatos quase físicos garante nas entrelinhas que eu sou daquelas loucas cuja dor toda faz morada no ambiente abstratíssimo “cabeça” e
que inventam a distorção dos fatos de modo que os outros, quaisquer outros, são inocentes e não reprováveis
escusos. quanto a mim tudo lhes cabe. e minha alienação é passe livre. não confie, ela não sabe dizer. me esteriliza a boca com instrumentos sujos e mal suporta a fisiologia de um choro. você quer. que eu pare pare imediatamente de me por fidedignamente em prática.
e essa é a história de como foi esgotado meu potencial de fé. essa é a história de como os eventos pútridos cavaram para fora de seus oblívios subterrâneos.
e finalmente eu odiei os cromossomos. só então eu os entendi como inimigos e predadores que dissimulam em busca-
eu tenho algo mas que não me pertence.
e meu sexo, um algo objetivo e unilateral, só existe a ser extraído de mim.
na tarefa de filtrar e lapidar minhas palavras expelidas uma vez que essa minha versão ferida, isto é — o que foi feito de mim também com suas mãos — é impossível de encarar
porque foram
as suas mãos também
cúmplices da invasão
em algum momento você me olhou sem prescrever esse princípio do descrédito?
e se argumentar que é minha mania, mania minha de buscar teorias da conspiração-
pra isso também há um motivo.
que seja dissecado que inexiste manifestação da agonia espontânea e de graça.
meninos serão meninos. é o que dizem, certo?
e assim homens serão violentos e cretinos (pois são esses seus mimos) enquanto o disfarce for de um menino
ensimesmar é tarefa apenas daqueles que não recebem tudo.
não é mais minha função desanuviar mais hipóteses que te desculpem nos meus monólogos
recorro e contemplo a cartela
calculo as doses
como possibilidade
saber dessa nobre saída quando quiser e decidir que de fato não preciso, eu não preciso
e só a contagem reunida
é a paz