você também devia saber
penúltima misericórdia
nos sinais marginalizados
de uma pele arregalada
fonte donde toco a cor coagulada
e então no prurido crônico
de placas inflamadas e ásperas
numa familiar carcaça-carapaça
disparo contra estética
e contra ideal de belo
enquanto desapoderada
aí que raia o interno de veias assimétricas
arranca-se raiz a fio os cabelos
dourando em escarlate um assoalho ancião
que recolher meus trechos
tanto já me testemunhou
e envelheço um quase cadáver
ponte para o pútrido que se fez
ainda ou já (?) aos 23
elevo a voz e o soluço
porque onde há terror. tem de haver denúncia.
até nas oscilações avulsas
que estranhos me garantem em arrogância
“essa não é você”
como que ruína intrínseca
ofendesse mais a paz alheia.
ouvi dizer ainda miúda
que há lugar na expectativa pública
onde caibo, enfim.
lugar esse
que não é de afago nem de lar
mas alas de um branco falso
um crime inaudível e marfim.
— morar no atrito
e esgarçar a ferida —
e uma vez mais trazer pelo físico
pelo material e paupável
Pois só aquilo que é visível
é também inalienável
e por si só
por aí se prova
mas à vez que exponho a míngua
e talvez até exponho aorta
qualificam manipulação.
pois que me devo trancar em algum depósito então
poupando o moderno
poupando o progresso
protegendo o externo
para que de mim permaneçam eles puros e virgens.
porque não,
ainda não foram criadas palavras capazes do-
Não há discurso que per si-
para nós os balbucios
com sorte as holofrases.
mesmo que seculares
sutis demais são as olheiras
sutis demais são os retalhos
sutis demais são quaisquer sinais
em raios de imploro lançados
pois esse antiquíssimo olhar
imune ao cuidado
reduz qualquer tragédia à uma vontade
e não traduz descontrole em imploro
e não dissocia da minha imagem
valor inerente de fracasso
e ainda que de ser fardo me imbuam
me empatam de inflingir
meu sumir definitivo
me sacodem acordar.
percebo mesmo
o que existe por trás
dessa sua vista
leio mãos e
faces e
toques — que violam passados
que se recusam a serem mortos
entendam o que significa
quando se boceja
quando se suspira
quando se revira a vista
diante do horizonte trêmulo
das minhas confissões errantes.
e fica esquecida a razão
de hoje me consumir a metafísica do asco
de beijos de língua
e dos órgãos eretos e pulsantes
me são nefastos tempo e espaço
me conquistam voz os buracos
ninhos de germes e helmintos
— a única forma que possuo de ser comida
(o desejo do verme
e o meu desejo
são unidade cataclísmica)
isolo do externo. me embrulho em longíquo
acumulo à força o vasto indizível
não se ensina nas escolas ou nas ruas
não é público esse isso-rijo
tal aquilo senciente e sempre cá
“falta esforço da sua parte, você sabe”
é que partes faltam.
e escárnios sobram,
você também devia saber.