Postagens

Mostrando postagens de julho, 2020

ad feminam

consinto . ponto final, consinto, modesto verbo flexionado de fim em si mesmo sinonímia de perdão — pois caro custa uma vida  de ser produto em liquidação. (ele lava o pau e é um novo homem de antiquíssimos hábitos e eu sou caquética e gasta ainda aos trinta) consinto pois não haveria como não fazê-lo. proclamo um “sim, senhor” porque um contrário nunca foi real, e são os estereótipos das escolhas  que fazem meu trabalho sujo . sempre foi a devassidão e a tara; e agora me ousam vir  com uma tal liberdade. eu alvo de homens infieis  cujas esposas infelizes já não os esperam  pois me inferem na cultura — que eu sou a classe destinada a servir (como um paliativo conveniente) ao mito do tal direito masculino  de obter sexo. o meu sexo não é o sexo conhecido; o meu sexo não é um a dois. o meu sexo é um objeto exposto a todo preço —  passível de ser pego e retirado de mim. entenda primeiro que as garotas exibidas na...

unas

não é caso de estreitar os olhos, não é sua miopia, não é mais da desatenção. no princípio não foi, genuinamente, sua escolha minha espinha ainda não é nem mesmo frágil. eu ainda não sou o suficiente pra ser frágil   um pouco mais que um neoplasma, uma ideia romântica feita de células frenéticas, de irracionais núcleos maníacos enquanto você deprimia. uma orgia de clivagens a que chamam milagre, de maneira que fui razão eras antes de conhecer o que era razão.   ainda quando eu podia explodir sem pré-aviso e sem estímulo justificável, quando eu podia apenas romper as frágeis membranas criadas pra proteger seu dever de multiplicação.   é sedutor causar o sangue e mesmo hoje eu sou fiel a isso.  suas mágoas em acústico eram tão mais que mágoas suas e eu só soube me expandir através da sua revolta e pavor herméticos. isso porque alguém uma vez te disse que punhais exigem polidez e discrição  e como é costume dos inícios — primeiro houve o ódio esmaecid...

blindsight

é difícil confessar clichê. olha, vê essa gente compenetrada em si mesma, esperando o ônibus, balançando o maracujá no supermercado.   vê também os ícones redondinhos dos perfis anunciando uma estória válida, e sempre esse bom humor cibernético que me faz perceber o quão ranzinza eu dei de ser. vê que essa interação é constante, fluida e natural. as relações seguras que se tem, cinco ou seis pessoas, mas equilibradas naquilo que é inquestionável. é quando o tempo continua tanto quanto os amores. confiar... e ter razão nisso. vê que os acidentes e as mágoas conseguem desbotar, algumas das novas conversas constroem outras permanências, as perguntas introdutórias disparam interessadíssimas (e não arranjo energia pra responder outra vez).   mais um processo dispendioso de quem-é-você e de parecer encantadora - que não passa de uma embalagem reluzente é fácil ver ao redor essa certeza de si, de que se existe . a certeza de haver canto. sabe, certezas tão certas que nã...

ecdise

se viesse à carne ao modo de outros males, mastigando em erupção até que do corpo a paisagem  fosse de úlcera e metástase, e a necrose  tão exímia colonizadora, ou por quaisquer outras imagens físicas de desengano  que por si provassem as vontades pulverizadas, não mais se insistiria que é suficiente um ímpeto e  mais uma tentativa. não mais se iludiria com ingenuidade própria daqueles que acessam apenas a teoria que basta mais um pouco, seja tempo, fé ou política,  basta apenas algo mínimo  até um estágio de não mais operar sob domínio. pois dissimulada come à queima carne aquilo já carcomido até que das coisas públicas só sobre o balbucio e se no limite dou de confessar, que “nem parece” perfura como um elogio e que mais fundo é mesmo uma pena,  de vida um desperdício. é que o que foi eleito realidade, comigo  desde antigo se vestiu da moléstia  até que o neutro se tornou o extremo e o extremo é regressa...

força bruta

a verdade entrevista pelas córneas converge desapercebida e por fim refrata nas más intenções  das quais está cheio o paraíso. se é tão óbvia inflamação psíquica  a ponto de se tornar piada; se o vício é um paliativo  que por horas frágeis (e alguma hipomania)  desfoca da melancolia se tropeço nos dedos e apenas por caridade interpretativa clamo uma frase coerente você ainda me conduziria  a esse rol vazio  combinados breu e azulejo frio e entoaria então o passe livre  do sexo casual e do melhor amigo? (casual é também o perigo)  o habitual despacho num táxi de madrugada  e quando eu piscasse  devagar o bastante enquanto você fingia  o mesmo ritmo seria divertido quando esse convidado subitamente despontasse por trás do teu riso? foi ainda divertido quando meu sangue  não impediu teus gemidos? “isso deve funcionar” basta me culpar por estar ao alcance. o habitual despacho num tá...