70x7
por favor
— se você me ama —
é o que pergunto
a sétima vez na semana
porque desconheço amostras
da certeza não-perecível
de toda forma
eu vou contra argumentar
manequim do automatismo
crente numa conspiração
eu não confio
e isso
nasceu comigo
então você bufa
revira os olhos
sua voz assume o tom
mais puto —
é quando me garante paraverbal
que eu-
eu não posso ser suportada
parece tão difícil
falar aquecido
e me jurar que logo passa.
e que sim você me ama
pela sétima vez na semana
até que em algum deles eu aprenda
você não imagina essa vida em precipício
toda noite em definitivo
eu sinto muito
pela recorrente descarga elétrica
quando meu corpo espasma
e o terceiro grau se mostra
na ausência de pele emocional
exposta, infecta
— patética
então tenho de
cortar os laços dos nossos dedos
pela sétima vez na semana
não sou o bastante então
corto meus próprios dedos
os nós das mãos e os braços
e assisto
como uma vingança e uma purgação
em espetáculo
até que minhas extremidades
despontem de novo
sem raízes
e eu finja coincidência
meu tradicional girar sobre os calcanhares
pedindo mais desculpas do que
a tal reafirmação de afeto
que tanto te ira.
e ironicamente, é essa ira
quando eu questiono
sobre uma natureza estável
(estranhíssima)
que meu medo original e pai da indagação
por ti se confirma.