mais pesado que o céu

um dia 

meus músculos 

hão de aceitar 

o que meu solilóquio

sempre soube


e entrarão em consenso

— um acordo político inalienável —

arrependidos da antiga hesitação 


um dia os pés avançarão

suas metades depois 

da fronteira outrora impraticável 

a poucos segundos 

mas muito seguros 

da iminência do finito


toda cacofonia 

convergirá no suspiro uníssono 

do deliberado alívio


(as hipóteses

de outro acordo qualquer 

serão só esoterismos)


os frangalhos farão as pazes 

na carne leve como uma vontade crescida

e tudo que é corpo se entenderá 

na queda comendo

a velocidade infligida 

— com orgulho


na qual nenhum outro mito

será obstáculo 


enquanto se perde a virgindade

do material e da vigília 


— e então nenhuma filha

e então nenhuma mulher

e então nenhuma menina

e então nenhum monstro —

não mais os papéis e as ranhuras 

apenas uma centelha cadente

solitária na noite 

mais pesada que o céu 


a pele que caleja se desprenderá, compassiva,

e assim meu sonho não-onírico 

e assim o plano que tanto retardei 

cumprirá de vez

minha tão oblíqua conjunção 

Postagens mais visitadas deste blog

caio,

whore

Armillaria ostoyae