pena capital
é que você não me deixa escolha
eu queria terminar esse livromas leio lento porque
a cada verso, me surge uma estrofe
como se cada um me inoculasse
seus filhos bastardos
fios em rede
— se me embalo ou me enforco
apenas tardo.
mas você não me deixa escolha
cada manhã mais uma e uma outra
trouxa de interdições
os acasos surgindo como
filhotes de aranha eclodindo
dos menores ovos como
colchetes dentro de parênteses
parênteses atrapalhando
parágrafos
trechos em obra, e eu que
deveria dar a volta
encontro o retorno proibido
teço uma narrativa suspensa
órfã de tema ou título
os travessões em malabarismos
em busca de qualquer
"portanto" definido
sabe, eu queria montar numa bicicleta
à noite e visitar as ruas pavimentadas e
seguras de asfalto retocado
que não tenho dinheiro para habitar
sabendo que existe um endereço certo
sentar na areia com shorts curtos
que exibam, sim, as manchas atópicas
e minhas largas e brutas formas
de um corpo cria de grande porte do abuso
que ladra tanto quanto morde
e vaga em busca do desenlace
desses fios que seguram a face
você não me deixa escolha
porque quanto mais espero
mais espesso
esse ano faz uma década
que me segue essa saída
imagética
uma quimera querida
de que há, afinal,
um escolha segura
uma base —
que resistirá ao impacto
enquanto verto mais fios
escarlatados
de arte abstrata
como raízes escorrendo no concreto
ao meio dia, atormentando o
trânsito dos cidadãos efetivados.
e essa réstia de corpo espatifado
não sou mais eu, essa hóstia
o corpo e o sangue do que não é cristo
será entregue, crucificado,
devidamente sem voz