arquitetura
quarto comum, classe media.
cama box solteiro. escrivaninha de vidro.
armário embutido.
criado mudo. mudo.
mas não vejo nada disso.
apartamento, um corredor estreito
adulta ainda odeio
enfrentá-lo na penumbra
caço formas, o grito já a postos
insisto que ouvi meu nome
n'alguma fresta por onde o ar
sopra
escadas
eu posso escoar por elas
subindo e descendo
posso sentar e chorar
salgando os degraus
as grades do portão -
nada pelo que avançar rua adiante
as esquinas
não são meras esquinas
eu as olho
e vejo pessoas
que nunca mais olhei.
que nunca mais enrolaram os dedos
na grade do portão
esperando que eu o abrisse,
sorridente, saltando os degraus
nunca mais os subiram comigo
adiantando conversas
de assunto-nenhum
ansiando pelo quarto comum
a cama box solteiro que eu arrumei
(eu sempre arquitetando como
abraçar meu mundo
com as pernas)
pra caberem dois alguéns
com as coxas confundidas
o olhar desfoque vesgo de tão perto
não notei as infiltrações. as rachaduras
as notificações de despejo
isto não é uma cadeira
é onde um homem se jogou exausto
por eu implorar que só essa noite
ele não fosse só silêncio
diante da minha desordem
isto não é uma cama
é o que me aparou quando
esse homem descobriu pouco surpreso
logo cedo
que eu era um caso longe demais
e complicado
prazo expirado
isto não é só meu corpo
é o pretérito imperfeito do
percurso aleatório dos teus dedos
e eu preciso que as coisas
voltem ao seu estado natural
de coisas.
quanto à mim
interdita e derrubada
isto não sou eu:
é tua mentira.
as esquinas
não são mais esquinas
eu as olho
um mero cruzamento de gente anônima
nãos-tu
e contruo
rastejo a rastejo
overthinking pra conhecer teu rastro
o itinerário das tuas razões
de ter anulado
cada um dos nossos
projetos.