4 meses
a mão que se ergue
em ameaça coreografada
é a mesma que guarda
bem apertado o fóssil
daquele afago tão familiar
o abraço que esmaga o órgão
pretendendo agir tal qual
uma camisa de força
enquanto eu me debato em ânsia
do curso trivial do metabolismo é o mesmo
que tantas vezes
me aninhou meu próprio cárcere
os olhos que me alvejam
ora querendo me ver queimar,
ora querendo nem me ver,
e que erotizam em desejo
alguma transeunte fanática
tangente ao palco
ainda são aqueles
– a gênese da tragédia
que se deitavam tão macios
sobre a minha imagem
de menina travessa
a voz que invade os cômodos
que faz tremer a postura mais digna
ainda guarda semelhança
com a que jurava vidas
eu inventei você como se faz
uma quimera no deserto ou
um personagem que salva
os menos favorecidos
– as pobres garotas problemáticas
e tudo o que eu mais amo
não passam de flashes mnemônicos seletivos
era cada vez mais raro você
parecer ainda consigo mesmo
até que o que outrora foi
não abona o que agora é
essa incapacidade de processar
a integralidade da experiência
é tão típica
e há quem questione
o porquê de ser tão confuso
abençoar o movimento do carrasco
enquanto a foice ofusca o céu