sobre
"não é real", eu pensava
enquanto você pressionava mais
a mão sobre minha boca
e o peso do seu corpo me afundava
no colchão
você diz que
só quis calar meus gritos mas
eu também não conseguia respirar
– coincidência,
você dirá
não estou aqui,
esse sobre mim não é você
(e você repete
que isso não é sobre mim)
não sou eu ali
esse deitado sobre elas,
transpirando, não é você
suspeito que algum desses corpos
seja o meu
catatônico e
tentando
desacordar
os outros estão
bem despertos
e se movem freneticamente
tesos enquanto
eu amoleci os membros
em asfixia
até que você se satisfez
e me soltou
e eu desapareci
completamente
até ser só menos
que um
vestígio teu
não aconteceu –
você precisa que eu
acredite que
você não é assim
antes você
fosse outro homem
quereria que eu lutasse contra
provavelmente
daria uma boa surra em si mesmo
você diria que esse
não é você, que não pode
ser
os sons comuns distorcidos
como membros em exorcismo
num ensaio sobre o quebrado
sobre
eu, em pele de mariposa
que queimou demasiado
próxima à luz
que você esqueceu acesa
quando sobre alguma mulher
que eu não sei mais qual
que eu não sei se eu
saí debaixo desse
corpo
ou se fui eu a
única a
cair –