TITÃ (16.12.19)
o que é indubitavelmente colosso -
todos e cada um dos grandes feitos monumentos guerras e seres
desconhece o estado terminal de uma mente construta do privado que se instala sobre a dor arrasadora
e se concretiza no não-romântico
não insosso
não lento e calmo como um sono gentil
não justo e digno cuja decisão e salto último
sejam emancipados e libertadores e inofensivos
não possuo, mas poderia
(ou ao menos jura por deus a meritocracia e o sonho americano que infecta)
ter docemente a vida que aspiram os, como eu, crônicos desajustados
cujo vale da sombra e da morte não é banido por nenhum cajado;
um emprego que conserve as vontades
uma união que não acabe com ou pelo amor
crias que não amaldiçoem sua concepção
o encontro sutil com o prazo de validade e seus sistemas em pane
mas ainda que exequível e humana fosse a posse de todas as razões lógicas
e afetos estruturados
e meios materiais
para não queimar os parágrafos e preferir o ponto final
ele ainda pairaria neoclássico
como uma lança terminantemente apontada contra o peito
sempre pronta e a postos para receber o impulso da mesma mão que a afaga
ponderando e admirando a ideia de uma última dor
e ainda quando a primavera ascende
e eu sou aninhada no destino do homem que amo
e amo aos meus amores mais sincera e certa que nunca
e o dinheiro é um papel estampado que oprime menos perverso
e os gatos ronronam enquanto suas cabecinhas angelicais se chocam contra meus pés
e meus pais não parecem tão arrependidos
e os movimentos se distraem da sina de remeter a todas as vezes em que o sangue foi arrancado traumático dentre as pernas
é titânica a paixão pelo poder de findar a si e toda a obsessão das fantasias
e aquela arma no cofre cuja combinação eu dissimulo não saber
cuja munição está cuidadosamente separada (...)
mas se não fossem as armas haveria os arranha-céus
e o gás e o álcool e os benzos e os trilhos
e o carvão e os cães e as facas de pães
e os venenos para ratos e as cordas infantis
e as drogas que salvam da febre
e a inanição auto-infligida
e qualquer método estúpido e exótico
porque é vasta e improvável a criatividade humana
e o impulso dos 15 minutos de desgosto eterno também
pois ele se ergue sobre mim como uma besta mítica e sua sombra se estende
penetrando morbidamente em todas as curvas delgadas dos pontos de interrogação
então me prostro e espero até que ele se entedie e julgue abatido aquele pobre animal que surpreende por ser eu
em seu exoesqueleto de poeira que confunde a identidade
eu fujo dos espelhos pois me ver é contemplá-lo
respiro fundo até onde posso - ele nunca tarda e se alimenta em ciclos
não adianta a geografia e tampouco há necessidade de manter os modos entre as pessoas
e o ar imóvel pesa minhas pernas falham e tudo é inviável
eu percebo pouco antes quando o horror está chegando.
quando o sono se torna um luxo e qualquer pequeno azedume é intolerável
eu sei do seu espectro indiscreto pressionando
e transformando qualquer diabo numa piada
vaidoso por não poder ser ignorado e por ocupar todo o campo de visão e pensamento
assumindo as faces mais perturbadoras quando o sol míngua
roubando a saturação e a nitidez dos rostos amados e das paisagens
e eis que não me apodero mais da minha lógica -
eu o sou ou sou a tentativa nas suas lacunas?
não seja ridícula, eu digo,
você não queria morrer anteontem
sabe que é o que resta é paciência
mas essa dor desconhecida muito antiga não parece disposta a ir embora dessa vez
e toda vez parece o mesmo
e com os dentes ameaça o ataque e me paralisa e as palavras somem e depois o trauma permanece
ele vai voltar
todas as atividades que regulam a sobrevivência ganham minha descrença
zombo delas porque estou vegetando ambulante o suficiente para não conseguir usar os polegares
e a maior parte do dia apenas deito e observo o dia opaco
mas de súbito me ocorre a incapacidade lancinante e imutável de aguentar o próximo minuto
e compreendo o óbvio que se manteve nas entrelinhas
de que eu instigo apenas sofrimento e dor com meus sofrimento e dor àqueles que amo
e então todo o amor que me habitava há muito pouco é vago e impreciso
vago e impreciso -
e a rotina dos sintomas se fazem motim
há uma simbiose e o hospedeiro ingrato e iluminado pela súbita verdade inquestionável
precisa se deixar matar