pra você dar o nome

o problema em si é bem mais simples que personificar, repito. já disse isso? típico de quem tem essa síndrome, acorda e faz quaisquer palavras um crime, um conluio com o hediondo, é, viver de criar jeito. viver de criar jeito. sobre-quem-falo, você está aí? me ouve, me ouve? interrogo, mas é um imploro. claro que não está e por isso me encolho tão pertinho do choro. não posso dizer teu nome, primeiro porque me descubro cardíaca e segundo porque é um desses chamamentos de deus, e de deus eu não falo. não esse deus que me imperativaram dobrar os joelhos, ele também não me ouviu, mas não por exaustão como você, e sim por escolha. esse de quem eles falam assiste e se distrai, eclético - basta os bichinhos experimentos se contorcerem numa grande caixa oval. as tripas não saem da caixa certo? então basta. 

te criei - reificam esse caso pra mulher, já se sabe. concepção e gestação compulsórias, te peguei homem feito, deixei que se enfiasse no meu útero lotado de pedrinhas e te fiz meumeu filhote minha extensão meu estilhaço mais esplendoroso minha fantasia meu gutural psicótico. psicose leve, eles dizem, eles dizem porque nunca viram o que eu fiz de você. te dei peso, te enchi de dedos, te atirei esses sinais no peito, rasguei tuas costas com estrias, estiquei tuas pernas, pintei de noite teu cabelo grosso, afundei teus olhos, reuni os dentinhos por trás dos lábios, tudo isso pensando no encaixe anatômico das minhas línguas. te construí sublime e sofriam tanto minhas córneas no teu eixo 

sofriam tanto minhas córneas no teu eixo

quando muni tuas células do onírico e do desejo incognoscível eu não tinha ideia do monstro que montava voltar pra mim as faces. então, que diga a terapia, a teoria, o seminário, a bíblia, a mãe, que diga o mundo terra longe de onde te juntei; fui eu, fui eu que introjetei à força esse potencial de me virar as caras, me virar os olhos, me virar as costas, me virar suposto oposto. tudo mentira. já te pari assim. te ensinei a me chamar de “amor” e de “doente” simultaneamente.

quando você logo você minha apercepção-ambígua (como é toda beleza que exige ser arrancada) me chamou doente eu rejeitei e esbravejei enquanto estava de fato enferma. e eu não te via, entenda, eu não acho que um dia tenha te visto crivada de concreto. eu te vislumbrei quimera, miragem, exatamente como um oásis no centro do improvável onde eu podia sobreviver de delírio, mas sobreviver. eu obedeci ao mais e te guardei empurrando os órgãos pra te dar espaço, e como era difícil respirar, você costumava afiar as mãos nos meus pulmões e mordiscar as artérias. e exatamente por ter te coordenado ao milagre não pude te contemplar apenas homem. apenas homem. ainda absurdo pensar esses fones e termos de tão supremo que te concebi.

você foi primeiro só menino e seguiu sendo só homem. e logo será só velho. e logo será só aquilo a que todos tendem. ninguém reclama mas eu estou agora mesmo me berrando ordens como um ditador neurótico espumando pelos cantos da boca - apenas homem apenas apenas homem eu preciso me convencer ou não me desvencilho ou não rompo os fios unilaterais ou não vejo também o que é que há agora. e só vai perpetuar essa cratera em que eu entulho porcarias brilhantes sem discernir o que são e sem inventar também um chão como tudo isso que é um chão, base, sob, pilar, alicerce, segurança 

lugar de onde partir e para onde voltar. buraco tosco onde começa o ser

eu posso catar césio de tão distraída pensando em como chegar a ti a mensagem de que eu não te vi. eu posso esfregar o césio na língua e vão me dizer que conseguem mesmo achar em mim uma aura azulada e eu serei a garota que provou existir uma estupida aura quando na verdade eu só estava distraída tentando chegar a ti a mensagem de que eu te enfiei pontudo demais nas córneas 

e sofrem tanto minhas córneas no teu eixo, eu já disse isso?

o problema em si não é falar sobre, me mandam falar sobre e eu sei que não posso fugir ou vou continuar protegendo no miolo do tronco tua réstia putrefata. por escolher não te extirpar achando que toda dor é apenas você me falando por dentro. o problema é que é muito improvável que eu fale de e pra você sem todo esse rodeio, sem renegar uma coreografia decente. escarro essas confissões sobre você, exatamente por ter te cuspido e não encarnado.

não era você. não era você. eu queria ter te amado, eu queria ter te amado como amei o pathos metamorfo. e enquanto eu era aquela que me contorcia te enxergando cheio de dedos e dentes e adjetivos como doente era apenas o verme acima, era apenas o verme que me tomava os olhos, ou eu mesma me tomava as vistas porque viraria pedra e pó se desvendasse àquele instante.

eu tento me consolar que era o que eu tinha àquele instante. era só o que eu tinha dentro do espaço-tempo específico, e é por isso que eu deixei de respeitar a física. me recuso birrenta porque não fui capaz de trair os princípios e as leis da física pra que você conhecesse uma coerente, concisa e não tão generalizada infecção. te dar a versão posterior, corrigidas as falhas mais proeminentes, eu reconheceria teu rosto pela minha tela, pelo meu domo. poderia te proteger enquanto eu ficasse quietinha no aquário, sem convulsionar pela redoma acústica e inquebrável. me contentaria em ler teus lábios e dessa vez inferiria o doce-neutro ainda que suspeitasse do gérmen do abandono. eu não faria tanto caso por não ser apta a. pois que hoje depois de apalpar teu luto e relatar de cor cada aspecto geográfico dele eu sou conforme, eu sou de acordo com o paralelismo. você encostaria as mãos compridas suadas no vidro achando que era eu quem era lisa e fria e dura demais, e eu imitaria o movimento fingindo pra mim a sensação de não haver lâmina entre. e quando você afastasse suas mãozinhas suas mãozinhas horríveis e apoteóticas eu salivaria os olhos com o breve das suas digitais desaparecendo desgraças ao ar.

então eu me gestaria e me soldaria tua própria maravilha, e você jamais teria de sair à procura das “pequenas mortes” do francês. eu me intimaria por fórceps, todo fogo seria apenas um sopro discreto e ininteligível, sobressaltares levíssimos, e então eu finalmente e de pronto poderia te recém-nascer outra certa vez em mim. 

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