lateralus
basta que avance a hora escura
e o suplício
como um solstício
e o lamento
como uivo atiçado
por um astro noctivo
então eu que ressurjo da combustão
uma outra mesma vez
como um pássaro abatido
com meus discursos sobre o cansaço
ainda mais cansativos
ao teu ouvido —
pois que já se inauguram repetidos
e depois dos ouvidos,
seus olhos, sim, seus olhos
reviram.
sofro com o segundo branco
automático da sua esclera
e realizo que nenhuma afeição resiste
ao mesmo eco. das iguais aspas.
cedo você me garante sobre a armadilha
que são minhas previsões e conclusões distorcidas
e se impacienta pelo caráter cíclico
exatamente como uma roda de íxion
do erro em conserva — um vício
lá fora, adiante, é claro
— o meu absurdo é óbvio
e parece que escolho
me abandonar ao delírio
sem nem ao menos contestá-lo.
promete que se eu me debater o bastante
— como se carbonizasse mais que o fogo
como se agonizasse mais que a convulsão —
esses flagelos sumirão dos meus membros
e assim poderemos reclamar mais uns séculos
a máxima anciã
sobre o estrito esforço ser o
genitor de todas as conquistas.
mas você, sim,
têm o privilégio de desistir
não adianta quão seja eu cautelosa.
um núcleo de imediata invalidação
já se formou amálgama
com sua imagem daquilo que me diz.
por isso você se esquiva
até que nasça o inevitável escuro das horas —
quando você cumpre um antigo
e já sem sentido compromisso.
então deixa às vezes o corpo, às vezes as palavras,
ambos rasos e suando,
e se dissocia. longe.
talvez, sim, você só me veja como uma carcaça patética
daquela um dia vestida de dourado.
agora eu sou
não mais que um
epitáfio das tuas vontades
por isso seu luto disfarçado
sim, você já pode ir.
voltar pra casa onde
te esperam ansiosos
pra montar planos
em conjunto
sim, eu serei parecida comigo ainda
como um demônio desastrado que guarda seu sono
resistindo ao ofício de pisar teu peito
as horas escuras
são apenas a noite pra você
você pode encontrar onde
nenhures de mim jamais houve
sim, espirale,
continue indo