18 de junho

"saia daqui. agora."

você só virou o copo de cerveja,
com uma expressão jocosa, quase a rir de mim,
-- meu massacre um espetáculo --
e saiu junto a ela
sem jamais olhar pra trás 
pra me conferir 

por ironia
estavam no exato lugar onde
eu inaugurei tua boca 

sim, era evidente que eu tremia
e minha voz tropeçava nos nós 
contendo a bruta selvageria
entre as paredes do corpo

você mais que ninguém sabia 
o que aquilo me causaria 
parece que minha agonia tem se tornado 
teu fetiche.

em nenhum instante houve qualquer expressão
-- digo uma mínima demonstração, 
uma faísca perdida que fosse no olhar --
do desespero ou imploro 
que você tanto verbalizava quando a sós comigo
-- não, seu corpo público não conhece o desespero 

a despeito da tua verborragia
você também não tentou dialogar pois
precisa se manter no personagem
não podem haver testemunhas 
e no final todas as verdades estão 
contidas nos gestos concretos

retalhei de novo a coxa
com as memórias afiadíssimas
que eu carrego na carteira
por segurança 

nunca se dá por finalizado ou resolvido
o momento em que meus olhos te acharam ali
e o impulso genuíno de correr 
pra me enfiar no teu peito
-- percebo então o quanto é possível amar
tão profundamente
o próprio algoz --
e a ambivalência de, apesar disso,
ser obrigada a acionar mecanismos 
dos mais racionais e frios
e permitir que você parta a colher as consequências.
mas quem dera eu pudesse 
te pegar no colo e trilhar contigo o seu caminho, 
segurando sua mão, sendo suporte,
quem dera eu pudesse fazer o seu trabalho por você 

quando acordo
é sempre esse baque
ao realizar o presente

agora entendi porque semana passada 
você disse que tinha saudade
de ouvir meu eu te amo enquanto eu gozava 
porque sim, ainda há alguém 
que goza em você,
mas em silêncio 

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