mergulhadas as mãos através 
dos meus dentes rangendo arrombou
a escalada profusa entre o ácido 
que retorna à garganta foi-se minha
úvula e glote e cordas e todas demais estruturas
apenas obstáculos no seu caminho
e profanou o embrião a nascente 
de qualquer palavra.

amaldiçoou-as por te afligirem
e espelharem para outrem o genocídio 
das minhas convicções basais, você 
entornou o sentido delas sequer existirem
e reclamou cada segundo por nelas estar
supostamente exposto e crucificado,
elevando contra mim a voz e os punhos,
quando jamais ousei versificar seu nome.

e foi sobre sua reputação, a consciência coletiva
os transeuntes à beira dos teus palcos
a perspectiva externalíssima de quase desconhecidos
e suas futuras presas em potencial 
afinal, o que pensariam eles
de você afinal você 
um homem de ouro
"o cara gente boa de todo rolê"

depois foi sobre o que descobriria sobre si mesmo 
e de que forma seria capaz
de lidar com o próprio reflexo 

é sempre assim:
mulheres arriscam seus pescoços
para parir verdades e os homens
gritam em tons socialmente mais graves
que elas estão tão somente
delirando
feridas sem motivo, ensandecidas 
deturpando fatos com suas alucinações 

mulheres em raiva pelo ódio dos seus carrascos
como que pecam contra sua natureza esculpida.
devem elas sussurrar, suspirantes 
lacrimosas, resignadas na ferida, aos murmúrios 
miserabilizadas das próprias palavras
enquanto engolidas pelo hálito alheio

decepados meus dedos para que também 
não fosse possível registrar nem mesmo
através de símbolos ou metáforas 
quem você se revela quando na ausência 
de espectadores que têm pra ti alguma 
oferenda
– o privilégio masculino de ser creditado
como vítima, quando esse 
é o calvário das mulheres 

então esperneia em birra
para que eu encerre os relatos 
morram eles comigo o quanto antes
e escave sozinha onde seremos eu e eles
devidamente sepultados
atravessa argolas costurando meus lábios 
para que eu não conte a ninguém o que você faz
quando contrariado
e preserve assim a sua memória
que eu sofra em uma câmara alcochoada,
um bunker apocalíptico
e apenas você testemunhe tal ruína 
em orgasmo 

mesmo homens de meia idade são crianças
acolhidas ninadas amamentadas pelo mundo

mulheres que desacreditam em mulheres 
juram que serão elas 
a inverter a lógica desse homem
supostamente disputado
a reformá-lo e devolvê-lo restituído 
à sociedade
mulheres que odeiam tanto a si mesmas a ponto 
de assujeitarem-se
ao posto de melhores que as anteriores
estas que jazem no chão 
distante a convulsionarem 
– e dizem ainda 
esse corpo estripado
é só teatro 
mal executado

o lugar mais silencioso do mundo
é onde estão insones e decrépitas
as mulheres violentadas

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