ser obrigada, 
por ímpeto de sobrevivência
a abrir mão de você é, 
na verdade, como
fechar os punhos 

e me socar repetidamente 

mas esse meu rosto 
é mais inchado
pelo choro

eu pensei mesmo que seria capaz
de driblar seus maus hábitos 
– sempre nos pensamos especiais
a ponto de que aquilo não se repita

sua boca faz coisas terríveis 
suas mãos fazem coisas terríveis 
e o seu corpo me odeia 
concomitantemente 
ao prazer que o meu próprio lhe concede 
de adentrar 
e revirar tudo

eu odeio
quem seu ódio me tornou na sua presença.
você me leva a limites que eu desconhecia
e me torna outra, um alter ego reflexo,
oposta aos meus padrões 
você me apresenta a agressão 
como única forma 
de suprir uma necessidade
e traz à vida 
o pior de mim

as juras doces se tornaram gritos acusatórios
e os abraços, contenções físicas que machucam
seus dedos delicados circundando meus lábios
são agora mãos sufocando meus gritos 

sim, você é muito mais forte que eu
é capaz de me empurrar 
e seguir seu curso com glória 
me deixar para trás a lidar com essa história 
maculada

eu ainda te amo como ninguém o faria
eu ainda te quero apesar dos motivos 
que você me oferta para o total contrário 
ainda me retorço na sua ausência 
como um membro seu descartado
tentando encontrar onde me fundir

não, você nunca vai passar

exceto quando
me cumprimentar por aí, 
pretendendo
me obliterar com 
o vazio nos olhos
refrigerados e alheios, e você 
amnésico e inimputável 
dos crimes que você chamou
de amor

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