compacta 06/05/2018
eu não tenho
que caber
em você
me atrofiar
pra não assustar
sua falta de tato
me abreviar
porque você só tem
um minuto
e na verdade eu precisaria
da reflexão e do zelo
de algumas das tuas horas
mas alguém te ensinou
que elas são demasiadas
preciosas
para o âmago amargo
de uma mulher
você pode foder
mas não pode ir além disso
você não pode ouvir
ou abraçar também as asperezas
você só me eriça os pelos
se for de medo
e é por isso que mesmo fodendo
não há gozo.
essa estupidez como amante,
é por ela que você pensa
que "presença"
é estar com o ouvido ao lado
nos gemidos
e não muito mais depois
disso.
mas nos nós que o choro causa
você escolheu um imprevisto qualquer.
e ainda pretende voltar
quando passar esse carpir
porque sabe que eu aprendi
a amar até sua covardia.
eu sei muito bem
que você só aceita
os meus humores que lhe convêm.
uma vez
eu tentei me matar
e achei que poderia te contatar.
eu só sentia seus olhos pétreos
ignorando do intestino do escuro
cada mínimo movimento.
a pupila foi ficando cada vez maior
e tudo ao redor era pupila
"ele não está nem aí pra você"
minha mãe dizia
"...nem aqui", eu corrigia
"omissão de socorro", concluía um psiquiatra
"eu que o incomodei", e queria pedir
desculpas.
depois disso
eu chorei mais uns dias sozinha
e você não mais apareceu.
mas eu queria poder te dizer
que eu não devia nunca
ter me mutilado
ter me contido tão violentamente
não ter me contado direito
só pra garantir um espaço ínfimo que fosse
- fiquei provavelmente entre as punhetas ocasionais e tua leitura breve de Dostoiévski
que te faz sentir
extraordinário.