meu sincero,
desinteresse sobre procedimentos básicos dessa espécie,
me esqueço os pormenores.
esse corpo quer ser entidade à parte,
sem me atender
e se por mim nada faz
menos ainda farei por ele -
cada qual no seu canto.
que só por acaso é o mesmo.
não ia te fazer feliz
você não se sentiria completa
te acarretaria mais culpa,
e um arrependimento monstruoso -
disse quem não sou eu
quando cogito soluções
os soluços em uníssono me apontam
ah, se ainda fosse possível prevenir
com um ou dois comprimidos
que remediar...
se minha mãe não tivesse tanto me amado desde início,
delirando a lindeza simbiótica que acomete toda mãe
se antes mesmo de eu me aglomerar ela já não me tivesse construído inteira de sonhos ruídos,
se não isso ou aquilo, ela poderia me poupar - e eu nunca em vida conheceria a dor
como uma praga, me nidei ao endométrio
resistindo às desgraças (que é o que mais conheço)
nem correr do ventre fui capaz
ela teria uma profunda vida
e eu, essa morte rasa
intacta
parecem guelras, uma de mim disse
na verdade são uma palavra muito parecida, respondi.
já tentaram esconder as lâminas
mas eu mesma descobri como sou a arma.
arregacei de novo os pulsos
fosse outro me preocuparia:
assepsia, sutura, bandagem
mas em mim - assisto diluir-se na água
subir o cheiro ferruginoso
me enjoo. mas amo os deslizes.
prefiro não estancar.
ambulância - de perto
obsceno interior escancarado
flashes vermelhos e negros e o estridente
som do socorro nem sempre a tempo
ponho gazes displicentemente
e aguardo a próxima cicatriz