non-acceptance

nada é maior que o reflexo.
o espelho é predador nato,
sorrateiro,
mas não é dele a peçonha.

o espelho é a terra da nudez
e basta que as pontas recheadas dos meus dedos toquem-no
pra que eu afunde no mais subterrâneo 

golpeio com a testa essa mulher perversa e odiável que ousa me parear 
me arrebento
gosto de sangrar
das cócegas das gotas, 
essa é minha aceitação 

uma mulher de cara estilhaçada
tanto que já não existem quaisquer votos de beleza

matei uma criança e uma adolescente
e arrasto seus cadáveres desgastados
são meus véu e grinalda 

a memória se projeta desafiante 
através do prisma das íris 
transita entre meus sentidos
e me conforta no irreversível, 
no incorrigível, 
de não haver a mais pretensa possibilidade 
de receber o perdão
e recomeçar.

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