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Mostrando postagens de junho, 2024

25 de junho

eu duvido que haja arrependimento genuíno   a não ser pelas consequências sociais  de não querer ter seus erros transitando pelas bocas que cantam seus refrões  eu duvido de cada palavra de consolo porque a única prova que você me concedeu  é que de nada elas valem e também que você ainda tenha interesse e empenho em constituir comigo algo além do que já existe que você vá mais longe do que o momento permite que você não veja outras mulheres como alvos ambulantes e que não queira realmente se ancorar nelas -- manequins sem rosto -- pra amenizar seu mal-estar vital  eu duvido que sua maneira de me querer não seja como de um piromaníaco que precisa apagar os próprios incêndios  e que você é de fato capaz  de se gerenciar para não tropeçar nos próprios pés novamente eu duvido de quando você tenta me elogiar afirmando que não sou mulher pra passar por isso porque deixa entrelinhas que existem aquelas que são e que você não me amansa apenas  para que e...

poor thing

ainda é manhã cedo -- até a Angústia ainda dorme -- quando ela me procura  para disputar um homem (do qual eu já não faço nem questão) ela o quer a todo custo  mesmo que pra isso tenha que agredir outra mulher  gratuitamente  tendo conhecimento prévio de seu estado fragilizado  arriscando uma vida pela posse de um macho -- como um objeto de prazer que foi roubado -- apenas pela delícia que é pôr em prática a barbárie  quanto se é inábil diante da mágoa  apenas mais uma presa que anseia ser dilacerada pelo próprio predador. é preciso lembrar que, no fim, é só um homem. sim, essa é uma sentença completa. ela narra pelos dedos  como quem desenha a adaga detalhes explícitos que não exigi como o sexo era interminável e maravilhoso como ele facilmente ficava duro perto dela (amiga, a dureza dos homens não é tão rara ou fascinante assim basta chacoalhar o pote de ração  não acho que você deveria comemorar isso ) amiga, em trinta dias você fez des...

22 de junho

foi preciso uma centena de dias para voltar aos primeiros. é um tanto familiar essa euforia.  carece de sono, fome ou controle, vivo apenas o impulso em sintonia, fidelíssimo ao Desejo redescubro  o caminho que leva ao meu corpo -- que é capaz de experienciar muito além de dor e de ser consumido até fuligem -- e que é, curiosamente, o mesmo trajeto que me aglutina ao seu  o toque volta a ser bem-vindo (na verdade sou eu que o convido) e a eliciar Vontade de existir no plural  ficamos a sós numa unidade (im)penetrável os pontos do mundo voltam a se encaixar  através de nós  o certo e o errado são os mesmos de novo -- os valores nos seus ninhos eu percebo que  a saliva não mais incomoda e que na verdade serve a propósitos há muita coisa na minha boca além de só palavras -- não há vestígio de repulsa,  não me esquivo das investidas, dessa vez eu tive um pequeno improviso de noção de mim e por isso mesmo em aposto, com você me explicando por dentro me...

fade out

-- isso não aconteceu cúmplices e aninhados no engano tal qual esmaecesse lentamente  até desaparecer feito neblina no sul, no mês de julho  eu tinha 15 anos quando -- dissimular também que não decorei o time lapse dos seus dedos furiosos nas cordas -- e nas regiões mais privadas de um corpo que nem é o meu -- em qualquer música, suas mãos voltam -- você está por trás de todos os sons mesmo os piores  nos escondemos no canto, confortáveis no escuro e dividimos  a mesma cadeira -- qualquer condição para nos tocarmos "acidentalmente" como dois adolescentes ao descobrir o corpo oposto  e como no começo, um o consolo do outro suas mãos avançam por baixo da minha blusa  -- eu nunca senti que tinha mamilos até então  pressiono as coxas como quem pisca os olhos até que, intrusivo e cruel, me assalta a mente se você também teria ficado duro assim com ela não em mim , mas  comigo   você é muito duro  -- palavras mas, ainda, em qualquer lugar on...

eu sou quase tão farsante quanto você

continuo me arrumando pra você usando essa maquiagem escolhendo as melhores roupas e lingeries específicas  atravessando 10km de um bairro a outro suando frio mesmo debaixo de chuva me enfiando onde me sinto deslocada só pra estar ligeiramente perto -- relevando o teor ameaçador das mensagens  e resignando quando você diz que  nunca fala nada sério  esperando até tarde  mentindo sobre onde estou para os outros decepcionando quem me quer bem bebendo a cerveja sozinha com Radiohead nos fones de ouvido esperando seus 15 minutos  e comprando cigarros no terminal pra responder que já os tenho quando você perguntar  evitando questionamentos sobre onde esteve ou o que fez ou como estão vocês dois  criando projeções de quando estivermos a sós  e contando que dessa vez serei incrível que vou gozar do jeito que mais te encante  e deixar essa imagem cravada no teu cérebro  pra que você pense mais em mim que em outra mantendo em segredo o que ...

entre parênteses

só a estalar da mandíbula  me fez realizar que eu rangia os dentes você me procura outra vez sempre sobre burocracias de quem passa muito tempo dividindo a vida  mas, mesmo que seja só por isso, eu me entrego às migalhas, auto-constrangida, deixo você me enganar só por mais um instante  ainda é minha dose homeopática de vida deitar os olhos em você outra vez assinto o tempo todo, compreensiva não toco no assunto  você está aqui e isso é tudo que eu posso pedir você se cobre em lã -- estamos de novo a sós  suspensos nessa ilusão  -- entre parênteses  meu corpo volta a ficar quente eu sinto outra vez minhas mãos e pés  e solto o ar lentamente --  eu sei o que você fez acredite, eu soube o que você tem feito mas existe um hiato, díspare em que saber nunca é o bastante um corpo apaixonado é assíduo ao toque um corpo habituado reage sozinho e ainda de pálpebras costuradas toma o mesmo caminho  por mil dias percorrido eu me calo  você me ...

18 de junho

"saia daqui. agora." você só virou o copo de cerveja, com uma expressão jocosa, quase a rir de mim, -- meu massacre um espetáculo -- e saiu junto a ela sem jamais olhar pra trás  pra me conferir  por ironia estavam no exato lugar onde eu inaugurei tua boca  sim, era evidente que eu tremia e minha voz tropeçava nos nós  contendo a bruta selvageria entre as paredes do corpo você mais que ninguém sabia  o que aquilo me causaria  parece que minha agonia tem se tornado  teu fetiche . em nenhum instante houve qualquer expressão -- digo uma mínima demonstração,  uma faísca perdida que fosse no olhar -- do desespero ou imploro  que você tanto verbalizava quando a sós comigo -- não, seu corpo público não conhece o desespero  a despeito da tua verborragia você também não tentou dialogar pois precisa se manter no personagem não podem haver testemunhas  e no final todas as verdades estão  contidas nos gestos concretos retalhei de novo a ...

sorte a sua não estar na minha pele

benção essa sua de não estar na minha pele esse tecido sem derme, cronicamente inflamado de uma queimadura hereditária e epigenética  onde tudo sob o mundo é desregulado fora do lugar, avesso à temporalidade convencional inerente essa (in)cisão profunda maldição a minha de estar exatamente em mim e, mesmo fisicamente longínquo como nunca, você continua como-se rastejasse sob a minha pele feito um verme-coágulo a mastigar cada viela intersticial regurgitando minha ruminação  restando disso um vão carcomido,  -- um organismo puído à beira da auto-extinção  sorte a sua contar com esses reforços negativos ao manipular mulheres como sua anestesia para essa espiral descendente e oca no teu peito. você não percebe o vazio porque é ele que constitui o que você entende por si-mesmo e por isso você trepa em qualquer coisa aparentemente viva como um liame parasita  eu ainda vou acabar numa vala indigente que eu mesma cavei, com terra sob as unhas seguindo suas orientações ...

sim, eu posso sentir raiva

você tem certeza que quer esse homem que tripudia sobre pontos tão delicados  conhecendo de cor suas vulnerabilidades e torna concretos seus maiores medos ao romper os acordos mais íntimos  desenterra traumas de covas rasas tendo perfeita ciência da agonia a que te submeteria  e, ainda assim, segue sem alterar o percurso agindo como um completo (e perverso) estranho  fazendo toda vez que você pensa "não, ele não faria isso" ? você tem certeza que quer esse homem que engana a si mesmo sobre o que é traição  porque defende limites muito tênues sobre honestidade  é incapaz de tomar nota dos próprios movimentos  e admitir as reverberações deles e, ao invés disso, arremessa para você a responsabilidade pelas próprias falhas  porque supostamente uma mulher deve estar preparada -- que distorce os panoramas pra te imbuir culpa até que você peça perdão por sentir-se ferida? você tem certeza que quer esse homem que não se compromete com os próprios proc...

[tenho passado a odiar as noites]

tenho passado a odiar as noites porque até elas também são tuas  é quando está você vadio no meio do mundo a me magoar com toda essa vivacidade, esse apesar-de , esses desejos frívolos -- sei do que eles são capazes -- corpos é tudo no que você pensa, corpos é tudo no que eu penso que você pensa eu adivinho eu quase  delírio, um continuum eu te acho nas plataformas procuro o cabelo vasto num coque checo o portão, procurando nem que seja uma sombra eu te suponho nas praças  eu peço a Deus que lá esteja -- e eu não creio em nenhum de vocês dois. mas eu passo pelos marcos  esperando um esbarrão "desproposital" que não escancare minha intenção prévia meus planos perversos de ter um pedacinho só a mais -- e aí eu me dou conta da mendicância, e em que ponto você me fez chegar. ou talvez eu sempre tenha estado exatamente aqui foi aqui que você me encontrou e foi aqui que você me deixou -- em casa  eu posso ver vocês  durante a palestra no auditório  na fil...

visceral suffering

como quem, displicentemente, corta uma fita de seda  entre os próprios dentes -- -- queima o mero roçagar do tecido na pele -- dessa camisa que me cobre agora que compramos no show de uma banda local você exige que estejamos  mutuamente acordados -- sobre o que você decide sozinho - - e, ainda, que eu não sofra tanto por isso  antonímico, enquanto vislumbra para nós um futuro juntos não nega que pode surgir alguém nesse entremeio ,isto é, um verdadeiro cativeiro de incertezas  que garante imprevistos -- que terão nome e endereço e partes íntimas  quer que eu mantenha contato  para permanecer a ti atrelada (são condições ideais de monitoramento) -- mas, afinal, você sabe que eu jamais faria exatamente o que você fez minhas palavras são facilmente ofensivas porque elas escancaram o que você mesmo diz -- todo o absurdo do que você espera de mim em tradução livre: que eu me encaixe às funções que você pré-define e amenize o impacto das suas escolhas sabendo...

em 27 de maio

triste é você não conhecer as flores pequeninas brancuras estreladas que resistem ao redor de um poste  que eu colheria, guardando na concha das mãos, em zelo pueril para te entregar  triste é passar por onde jantamos no passado -- posso ouvir nossos risos empurrando a porta  é verdade, vislumbro nosso contornos em cada esquina ocupamos essa cidade inteira. e agora você  se faz onipresente  (outro dia mesmo estávamos aqui sentados) triste é evitar contemplar as crianças que deixam os portões das escolas  e que, sorrindo imenso, agarram seus pais porque me lembram você as crianças porque me lembram você as escolas porque me lembram você os portões  porque me lembram você os pais e os sorrisos imensos e, em choque, desviar o olhar dos bebês --  em seus gestinhos minúsculos,  que nos distraíamos aos montes a planejar como seríamos nós quando seus pais triste é engolir a comida sem perceber sabor ainda mais tristes são as placas de aluga-se ...

ainda em 26 de maio

se as palavras fossem navalhas eu seria esse cadáver inchado empalidecido com fatias arrancadas -- que já não sangram dum acúmulo arroxeado onde toca o chão, abandonado ao meio fio de uma rodovia  displicentemente você as arremessa ao léu -- mas penso: você não tem culpa de eu ser tão sensível   e de não ter essa camada de pele regular  eu as recebo e internalizo é você que sabe das coisas é você que bate o martelo é você que tem a mente limpa ,  preservada dessa catástrofe epigenética  que obnubila a realidade  a última palavra é sempre sua enquanto eu desejo assiduamente  que as próximas sejam minhas últimas  e que minha boca seja cimentada como uma masmorra, um leprosário, uma lápide sem dedicatória  que nunca mais nada meu possa ser usado contra mim eu já te vi partir uma dezena de vezes. há quando eu te observo entre o embaço de lágrimas discretas,  e há quando eu me ponho de joelhos  porque o corpo não sustenta o peso desse t...

em 26 de maio

como orienta o manual, uso o gelo  mas não é o bastante para me " interromper " então recorro a molhar a cabeça uns minutos mas  a pressão da água sobre a pele, o som estalado ao alcançar o chão -- aperto os olhos fechados. não suporto constatar sucessivamente o desvelar-se das atividades diárias mais ordinárias na tua ausência  esse vazio de ti uma escolha tua repetida repetida  repetida -- eu ainda guardo, no vértice das paredes, na prateleira ao lado do chuveiro, aquele último caco de espelho da penúltima discussão que vivemos quando eu ridícula acertei em cheio  o reflexo de mim sendo deixada para trás. não uma arma, mas um souvenir . eu ainda guardo, sobre os livros que pesquei algum trecho pra te ler, a mecha do seu cabelo, no hábito de acertar as pontas, envolta numa fita vermelha nunca fizemos aquela tatuagem os eletrodomésticos do apartamento que não alugamos estão na minha garagem meu útero é uma papoula ressequida e nunca  vai inventar algo com v...

aborto

você tem palavras para gestos que não se encontram e pronuncia muitos nomes incongruentes com ações concretas -- que não pertencem nem mesmo à mesma família  você mesmo desorienta. e se incomoda  quando nos perdemos eu vou me culpar por não estar no meio da rua e por ser capaz (e preferir) estar sozinha  ao invés de me meter em qualquer buraco com movimento ao invés de meter em qualquer buraco em movimento eu vou me culpar por me trancar  e tirar um tempo precioso apenas para questionamentos  e por tomar ações que não têm como objetivo me trazer ninguém  por não forçar aparecer completamente imune, por estar vulnerável em público  por não me esconder atrás de algum instrumento você ainda é só um garoto  sem luvas em santa maria  acabando de descobrir que o pai morreu. foi um longo caminho e não te encontrei em canto nenhum enquanto voltava. hoje é sábado  e você vivendo assim tão rápido  ocupando às tralhas os espaços que deixei p...

[hoje ela ganhou um nome]

hoje ela ganhou um nome e a silhueta hipotética foi preenchida por um corpo terrivelmente familiar. há quanto tempo acontecia? sou absorvida, pelas circunstâncias,  a conjecturar o teor erótico das conversas  e as intenções secretas ainda enquanto  você punha meu cabelo atrás da orelha há papéis diante de mim. eu sei  sei também que eu tenho uma caneta entre os dedos mas os movimentos são estranhos, mecânicos  como os de um manequim é óbvio que sei ler. no entanto,  embora decodifique as sílabas, as frases nada significam. e quando pisco, as esqueço  estive nessa sala centenas de vezes e só agora noto a presença das luzes no teto  uma garrafa de metal cai e eu espasmo me pergunto se as pessoas  percebem o atônito nos meus olhos  me pergunto o que é que você via em mim que de repente desapareceu. isso tudo é visível? como eu pareço enquanto desmorono? uma gota faz cócegas no canto da boca e cai sobre a mesa. é sangue. só então tomo ciên...

enucleação

passa de 1h da manhã,  passa do breu completo (o breu é tão denso que é além dele próprio) não adiantam os olhos esbugalhados. me reviro o corpo encolhido no quarto forço os olhos a fecharem as pálpebras protestam rangendo alto -- mas lá estão vocês dois. tão agarrados que o sangue de um é no outro bombeado, tão agarrados que corrompem o centímetro quadrado  tão agarrados que estão completos faz mesmo seu "tipo" a mulher de rosto embaçado. abro os olhos escuros num salto  estou só -- é claro, então o quarto está vazio então estou como o quarto então você tem alguém -- que não sou eu aperto os olhos. não sou eu.  repito. eu já entendi, mas contra a vontade o faço. não sou eu -- quero arrancar meus olhos. o que quer que eles façam é tudo sobre você,  te pertencem, te caçam, por isso devo, por trás do globo ocular, um garfo. você está até no breu, sempre completo, mas há sim um lugar vago  próximo à fronteira, um pequeno espaço  que você preenche compuls...

red flags

havia um hematoma vermelho-vinho na lateral do seu pescoço. não era uma marca à toa. era o discurso de ódio que você não precisou verbalizar ousou dizer que não sabia que estava ali que não sabia o quanto isso iria me ferir. não. era exatamente a sua intenção   exibir esse troféu . você partiu propositalmente ambíguo não havia compromisso -- mas eu deveria estar à sua espera eu moraria nesse espaço limítrofe  viva em você por um fio e ainda impôs sua presença,  para assegurar seu controle. e demarcar seu território . na lateral do seu pescoço havia um hematoma vermelho-vinho. eu jurei meus olhos ficarem opacos  eu jurei que o planeta cessou sua rotação  o cenário ficou mais que estéril   subitamente entendi o que você dizia "eu só pulo do barco quando tenho os dois pés em outro" em uns dias, era minha depressão  em outros, a distância física  e até mesmo a falta de sexo -- diferentes palavras para atribuir o problema a mim . vermelho-vinho, havi...

anzol

de quantas demonstrações você precisa -- quantos dar-de-ombros, dores infligidas intencionalmente  para "ensinar uma lição"  expressões outrora proibidas sendo atiradas, sinais vermelhos, limites escandalosamente ultrapassados  surdez seletiva aos clamores, medidas de controle o silêncio compulsório  com uma mão calejada de antigas mordidas que cobre a boca --  para dar nome à fera,  classificando-a abertamente como ódio ? uma coletânea de ódios sutilíssimos,  que se repetem numa ciranda discreta mandos disfarçados, pistas de repulsa velada que diante de espectadores não passa de uma apatia doméstica  envoltos em rendas de indiferença, descuido ou impaciência ocasional  que acumulando desculpas e justificativas  garantem que você não entendeu, é coisa da sua cabeça e você só está ansiosa  ou que é assim mesmo, habitual e ordinário. quase uma natureza das relações, acontece nas melhores famílias    a violência pode ser deli...