visceral suffering

como quem, displicentemente,
corta uma fita de seda 
entre os próprios dentes --

-- queima
o mero roçagar do tecido na pele --
dessa camisa que me cobre agora
que compramos no show de uma banda local

você exige que estejamos 
mutuamente acordados
-- sobre o que você decide sozinho --
e, ainda, que eu não sofra tanto por isso 

antonímico,
enquanto vislumbra para nós um futuro juntos
não nega que pode surgir alguém nesse entremeio

,isto é,
um verdadeiro cativeiro de incertezas 
que garante imprevistos --
que terão nome e endereço e partes íntimas 

quer que eu mantenha contato 
para permanecer a ti atrelada
(são condições ideais de monitoramento)
-- mas, afinal, você sabe que eu jamais faria
exatamente o que você fez

minhas palavras são facilmente ofensivas
porque elas escancaram o que você mesmo diz
-- todo o absurdo
do que você espera de mim

em tradução livre: que eu me encaixe
às funções que você pré-define
e amenize o impacto das suas escolhas
sabendo sair de cena, resignada,
quando não for mais necessária 

que eu seja sua mulher
de conforto

e facilite a intempérie
para minha própria erosão 

você assume o perfil de mártir 
e modela minha imagem a seu benefício.
-- se eu pareço outra que não a de ontem 
é porque ainda ontem você largou migalhas de esperança 
pelo caminho

(e eu colhi todas, estúpida 
como você prefere)

me despi da camisa e a atirei para longe
-- à queima-roupa --
a pele parecia acesa.

mas ao sair, você
apagou as luzes








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