em 27 de maio
triste é você não conhecer as flores
pequeninas brancuras estreladas que resistem ao redor de um poste
que eu colheria, guardando na concha das mãos,
em zelo pueril para te entregar
triste é passar por onde jantamos no passado
-- posso ouvir nossos risos empurrando a porta
é verdade, vislumbro nosso contornos em cada esquina
ocupamos essa cidade inteira. e agora você
se faz onipresente
(outro dia mesmo estávamos aqui sentados)
triste é evitar contemplar as crianças que deixam os portões das escolas
e que, sorrindo imenso, agarram seus pais
porque me lembram você as crianças
porque me lembram você as escolas
porque me lembram você os portões
porque me lembram você os pais e os sorrisos imensos
e, em choque, desviar o olhar dos bebês --
em seus gestinhos minúsculos,
que nos distraíamos aos montes a planejar
como seríamos nós quando seus pais
triste é engolir a comida sem perceber sabor
ainda mais tristes são as placas de aluga-se
que não vou compartilhar com você
as casas abandonadas e os terrenos baldios,
onde falaríamos sobre erguer nossa rotina,
continuarem abandonadas
e vazios
imitando a mim
tristes são essas associações fortíssimas
em que até músicas das quais você nunca soube
parecem ser exatamente sobre você
triste é o suor que escorre pela minha testa,
se acumula nas sobrancelhas e cílios,
se confunde com as lágrimas e secreções
ali permanecerem. sem ser mais enxutos.
triste é quando um futuro logo ali é assim abortado
e leva consigo sonhos já tão coesos
e bebês e crianças e famílias e lares e flores e portões e escolas e suor e pais e sorrisos imensos e até
as músicas
triste é realizar seu dedo nu
com a marca fresca
da aliança removida
triste é sua fala, ipsis litteris,
"somos pra sempre.
só não somos pra agora"
-- estar tão desesperada a ponto
de tamanha mentira
quase me consolar
triste mesmo
é que você inteiro
não parece nada triste