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Mostrando postagens de julho, 2024
você permanece em pé enquanto me atende e entendo que devo ser breve. nos conhecemos há uma década  assisti sua barba ficar grisalha mas não sei nada sobre você exceto seu registro profissional junto ao seu sobrenome composto. não acho, honestamente,  que essa impessoalidade  tenha algo a ver com ética. no início, eu era questionadora e irreverente  mas depois de tantos fármacos  eu só te relato o que você entende como sintomas de forma bem concisa e superficial  usando uma linguagem que foca no que pode ser entendido como bioquímico  -- a camada de gelo sobre um lago -- e aguardo suas soluções, esse efeito  que sempre prima pelo esmaecimento  do que seria personalidade -- e assim você terá cumprido seu trabalho  contenho os tiques de ansiedade e omito o planejamento minucioso do autoextermínio porque sei o custo farmacológico e de internação compulsória se, aqui onde estou agora, você concluir que estou  como realmente estou. há di...
pela manhã, eu acordo Viva   você é um Desconforto pervasivo mas ainda há chances de -- mas ainda sobra espaço para mim -- cedo o bastante para quase não ser cedo ainda, o frescor até me arrepia, todos permanecem dormindo Fins de Semana são os piores dias  é quando eu não tenho ideia de quem você pode ser e só sei que você tem a Faca e o seio nas mãos corta fatias finíssimas, devagarinho e sorrateiro, como se eu só fosse descobrir onde sangra depois e o que falta para -- eu mesma fazê-lo --  mas, definitivamente, há formas de vida o céu, as pessoas, o mar, os cães  todos eles existem numa tênue excitação pelo por-vir a Dor é quase suportável  a Dor não chega a -- estou no lado de fora da redoma de vidro e eu penso, ingênua, que sim agora acabou que eu não tenho mais que descobrir  que não estarei bem no cerne do campo minado que ninguém vai vir a mim te fazer réu  que não devemos mais nada um ao outro que não são mais cruciais as cobranças e as expli...

dos minúsculos elementos bioquímicos

dos minúsculos elementos bioquímicos -- dos mais irrisórios deles aos macro-sistemas -- das moléculas aos elementos figurados dos axônios aos dendritos dos neurotransmissores às fendas sinápticas das organelas às células dos hormônios à corrente sanguínea dos tecidos e mucosas aos órgãos dos meus intestinos e coração ao cérebro a não mais tão plenos pulmões dos músculos aos ossos da minha língua aos globos oculares da caixa torácica aos espasmos reflexos do suor ao muco cervical fértil das lágrimas ao gozo que se derramam às fontes dos cortes às cordas do alto do prédio à gravidade do concreto desde os átomos até uma bomba milimetricamente arquitetada esse corpo te ama bioquímica e organicamente de maneira irremediável da traição às omissões das mentiras às evidências da desilusão à perda de referencial da ansiedade à desregulação da depressão à ira da paixão reavivada ao sexo divino dos detalhes mais íntimos como saber o cheiro das suas coxas após o trab...

banho

dispo-me devagar e dessa vez  as roupas no chão são só as minhas -- interrompo o movimento de nudez  sonhando olhos arregalados que você estivesse outra vez  na soleira da porta me fitando detidamente . agora, nem o banho eu tomo mais em solitude . corro muito levemente as unhas pela extensão da cintura, desejando que fosse tua essa arte da delicadeza um toque tênue que quase não trisca um cuidado com minha íntegra  fragilidade minha inexpressão esvaziada sob a água que cai a desesperança que ocupou à força o rosto -- você deveria ver o que deixou e sinto quase uma dó  de retirar teu cheiro na espuma penteio o cabelo em automático, sinto as pontas roçando nos seios e lembro que você o assistiu crescer o quanto você gosta mais longo assim e embora me incomode não tenho o ímpeto de cortá-lo -- fidelidade encontro uma nova sarda de sol no espelho último sobrevivente das discussões homéricas  descolo os lábios ressecados e empalidecidos que não devem mais nad...

último

está tudo bem -- nos conformes finalmente entendi o que tenho de fazer. seria o destino se nele eu acreditasse a ideia se finca clarificada num insight essa única decisão possível  algo tão óbvio -- [13/7 22:29] gabriela castillo: pode ficar comigo alguns minutos? digo a você que alugaríamos um minúsculo apartamento próximo a uma avenida  eu me graduaria e encontraria um bom emprego e os boletos seriam enfim só um detalhe desconfortável  nós teríamos nos casado no civil primeiro e mais tarde juntaríamos uma quantia  para uma festa simples é ingênuo e supérfluo, mas eu gostaria de um longo vestido branco. tento ignorar que semanas atrás  você disse que não casaria comigo na igreja por eu ser ateia eu não sei te explicar, mas eu realmente amaria esses ritos com você  -- eu ainda tenho algumas horas -- tinha certeza que certas experiências vitais seriam contigo te comunicar uma gestação tão idealizada descobrir como você seria como pai pondo tears for fears...

11 de julho

deixo de me ser -- ou aquilo que eu acreditava -- me abandono à fúria,  enquanto quero ser plácida terei sido eu ludibriada pelos meus próprios conceitos rijos? mas existe certo nível de prazer em arremessar ao léu ofensas direcionadas ao seu algoz all lies and secrets put on, put on and on a raiva só quer ser alimentada e você o faz fidedignamente me desconheço, me perco em uma besta avulsa nessa dinâmica agressiva pela milésima noite o choro  ressoa na calçada e as pessoas observam  de sua torre de marfim de calma é um privilégio -- elas não sabem -- somos discriminativos um para o outro e motivadores de operações de violência  venenos mútuos  que cruzamos os braços para beber como recém casados não desejo isso pra nós  e por isso tenho de abrir mão  do meu desejo por você  all lies and secrets put on, put on and on por favor, me ajude a destruir esse panorama seja meu companheiro pela última vez e me deixe ir embora frear o acidente sucessivo d...

raised by wolves

ser devorada por lobos  doeria menos  do que por homens  seria uma honra a carnificina dos animais  tidos, por especismo, irracionais ser dilacerada fisicamente  ter a pele visível rasgada a abocanhadas  como se descasca um fruta suculenta -- não seria um risco -- eu não teria a necessidade de fugir -- eu nem protegeria o rosto poderiam arrancar fora meus olhos no êxtase de ter enfim esse corpo destruído por patas famélicas e não por mãos com polegares opositores não haveria ódio planejado ou a indiferença ao sofrimento que só o humano é capaz de exercer apenas o instinto a resposta da natureza que eu tanto entendo e compartilho às vezes não há animal mais letal que o homem  com sua ultraviolência relacional  suas mentiras e esquivas acumuladas como tumores em metástase  seria uma honra me encerrar assim e não recorrer a cordas ou venenos ou revólveres  nenhum horror do desconhecido, apenas o presente imediato sem elencar prós e contras...

sim, eu posso sentir raiva²

eu uso estratégias de quando era criança e precisava que meus pais me olhassem  mais demorado  não gosto de agir assim, me faz sentir  que sou insuficiente e falha outra vez e que é por isso que não entendo o que acontece eu tenho 6 anos de novo, atônita  quando descobri meu último sobrenome sem saber de onde derivo -- ninguém me contou a história direito é isso que você faz comigo eu preciso te pedir por favor o óbvio e o mínimo  como te ensinar o movimento de lavar a louça que você acabou de sujar  ou te apontar o que é esse tom grosseiro que exige moralmente que você me peça desculpas ou onde não pôr os pés  no campo que você mesmo enterrou minas ou onde exatamente em que ponto chave você errou (pra você o erro só existe  quando eu emito verbalmente a mágoa  você não tem autonomia) afinal, o que é que ainda espero de você? o que é que ainda estou fazendo aqui? que falta vital que rombo no peito são esses que me impedem de partir? o que f...

apoteose

estranho é o som do meu riso na tua ausência  reverberando uma vibração em acústico  nas vísceras do corpo-estúdio parece irmão com o inapropriado e o indevido só o ato de ser qualquer coisa longe de você se reveste de infidelidade   -- é esse o domínio imperialista que você exerce -- tais maneirismos meus são estrangeiros  tenho eu travessões? - o que é isso que eu digo agora?  não conheço o corpo que se desgarra em mitose  me habituei a me definir através de você   no cerne da rua,  como um maldito pedaço seu foragido   que peca ao estar desvencilhado  julguei certo meu contato com o mundo  estritamente por trás da tua pele -- como fosse possível filtrar a aspereza intrínseca  e mais seguro viver indiretamente -- uma figurante em cena decorando seus atos  sozinha estou então solta demais penso que é inacreditável  que minhas funções fisiológicas sigam  um curso natural  penso que é inacreditável  qu...

cinnamon girl

"o que de pior ainda pode acontecer?" é o que se pensa antes de dar outra chance pro diabo quando já se está condenado eu devia ter acreditado na minha intuição -- pois são apenas pistas ambientais ainda não submetidas a análises funcionais -- e que era tão ruim quanto diziam após alguns dias primaveris -- imediatamente a ilusão de estabilidade é destruída  por algo tão banal e minúsculo que nem chega a ser percebido se você não estiver  previamente emparelhado aos escombros não seria assim para os outros  não seria assim nem para mim se você não -- de súbito a trégua tem seu fim e tenho vergonha de reagir dessa forma  -- mas não a habilidade de dar a César o que é dele -- não quero ser tão afeita pelo controle agindo como sempre critiquei outras mulheres agora eu as entendo  e pago pela minha língua   -- obrigada a articular frases tênues  e que lambe toda tua extensão acre outra vez -- mas o outro não existe sob nosso domínio  não importa o qu...

sensitiva, 2018

entre as cortinas, olhar vidrado, um fantasma colonial -- esperava o carro dele estacionar logo ali embaixo -- sim, no próximo minuto, ele -- assim o era religiosamente por eras encontrando sua voz mesmo no vácuo roendo as unhas, os pés se contorcendo, apoiados um em cima do outro -- sim, no próximo minuto, é ele -- numa estrutura que não se importava em definir-se antimanicomial apesar da Reforma, isolada geograficamente para nos manter longe  das vistas da população, busquei resolução em algum outro fármaco -- sim, afinal devia haver algo que -- mas ao me deparar com uma senhora amarrada pedindo por favor por favor por água  pari uma fúria irreconhecida que julgaram em consenso como inapropriada e entre gritos de uma menina, que demorei a atribuir a mim, cinco homens saltaram sobre meus membros  a fim de imobilizá-los.  -- não precisava tornar medo   o que era só raiva - - como um animal arisco recolhido, tinha consciência dos hematomas brotando  alçada...

homesick

todas as noites a ser desconstruída  como um brinquedo de peças que montamos mil anos atrás. com excertos que se encaixam quase que por acaso vira trivialidade na sua boca -- você mastiga esse engodo e cospe algo já resolvido, em saliva fina fresca  e eu que fique com o bolo na garganta. das coisas que eu não posso pronunciar que eu não devo nem mexer eu dou por finalizado esse elo vetores opostos uma escolha prudente mas você me olha como quem me fez chão pra pisar e isso de ser necessária   é o que me quebra os excertos que se encaixam  por acaso contenho o escândalo como quem para com o torso um vagão de trem você me recolhe vária, e me molda valores que não reconheço  e eu só posso dizer sim antes mesmo de você perguntar se quero eu gosto mais de mim agora você não precisava me romper assim mas eu fiz um bom trabalho com o que se salvou intacto e tenho barganhado com o que é irrecuperável  mas é simplesmente tão óbvio ainda estar aqui embora as próxim...

traição

o bote arisco mas também o veneno  de ação   l e n t a  e prolongada  família com a mentira parental, o pecado dos ateus e abuso psicológico ressuscitado de agressões pré-históricas. primeiro a incredulidade  o "não" imediato, compulsório,  uivado contra a corrente, a dissociação nos olhos secos e vidrados, até num meio sorriso irônico -- "não é possível" - - deseja-se que seja sobre outra pessoa  e coincidência o mesmo nome. porque não parece caber na, é incongruente com a realidade. essa que demora a ser processada, e o faz dia após dia arrastado. necrosando o organismo  de va ga ri nho. revirando as memórias, encontra-se pistas  em episódios antigos quase reluzindo . desponta a obsessão por construir a linha do tempo, e a paranóia de tempestades de sinais agora, detalhes que no passado seriam irrelevantes -- de repente uma horda deles ganha sentido a conclusão de ter partilhado a lida com um estranho em beco mal alumiado. imprevisível...

03 de julho

não existem provas do contrário. o horror que conjecturo  se mostra exatamente  o que é. você se nega a exibir o que te incrimina e chama de "individualidade"  suas trocas íntimas com outras a verdade é que nada mudou -- como prometido aos mindinhos. um status unilateral te é suficiente para não definir como traição e manter a consciência intacta. então me bombardeia com ofensas quando eu insisto que é imoral. tenho de sair daqui . me ergo  o caminho é torto e logo me curvo  porque o choro é denso você exige que eu tenha reações discretas  pra que os transeuntes não te olhem com desconfiança  quer que eu não soluce tão alto e que pareça que você não tem nada a ver com isso. fica distante alguns passos observando berro com você, você dá as costas como se não fosse consigo. me escoro na grade, meu corpo insiste em tombar. algum anônimo quer me ajudar, ouço                            ...

duas mulheres

você me uniu íntima a outra mulher que eu nem conhecia  nem mesmo usou uma barreira física. abandonou seus genes em ambas -- em atenção alternada e com expressões de paixão como jargões , vocalizou iguais palavras e sons. como uma coreografia que seu corpo nu segue à risca agora somos duas mulheres com um mesmo buraco  (não esse que te atrai). talvez choremos na mesma frequência e nos odiemos mutuamente por não sermos seu objeto exclusivo de amor. duas mulheres distantes que não se querem encontrar  que não sabiam que contigo cruzar era um caminho sem volta. uma rua estéril, sem saída. -- dead end duas mulheres que se levarão vida afora por uma escolha que só coube a você  partilhando a mesma morte e as cerimônias de luto sem saber como te sepultar. duas mulheres que se compararão e procurarão em si o que você não viu. duas mulheres que a si julgarão  com base na sua perspectiva e seus crivos cruéis. duas mulheres com os mesmos sintomas despertas até a madrug...
vai tomar todos os cuidados -- isso você sabe planejar apropriadamente o importante é que eu não descubra -- mas posso adivinhar  (a nua verdade nas rimas pobres quando se é pobre de verdades nuas ) não temos status de compromisso (seu significante benefício) além de um vínculo forjado a ferro e fogo além do meu corpo colonizado seu império absoluto além da minha alma existente só pra ser aspirada -- você me deve explicações  e fica inadimplente  quando você me fode assim e é diferente até a cadência, imagino se te suscita lembranças paralelas ou se aprendeu com outra experiência  enquanto comigo -- durante -- quando virei as costas por um instante juro nenhuma mulher merece passar por isso -- você pergunta então,  como quem dá de ombros (é só retórica), o que pode fazer  gaguejo um pequeníssimo "nada" e imito que deixo pra lá  (afinal você já fez muito muito mais do que devia) (minha voz aprisionada -- não quero atiçar sua ira) (pelo amor do seu De...

vulgaridade

te ver entre as luzes do palco é quase uma dor escrevo isso por trás de uma pilastra,  me omitindo do contexto -- será como se eu não estivesse ali não sou sua companheira, não sou  a mulher da sua vida sou uma mulher, uma outra ,  que confunde seus conhecidos por não ser a anterior, que te acompanha e te questiona se precisa de ajuda. sempre pronta a auxiliar com palavras amenas  e mão de obra -- desqualificada  é um trabalho que não importa quem o faça  basta que seja feito alguém me diz que você não tem mais jeito e que agora é só nascendo de novo eu tenho medo que seja verdade mas eu te esperaria nascer outra vez contrasto com o ânimo da plateia  cronicamente insegura, estou na vigília das suas interações  tentando não perder você de vista ou -- sei que não somos próprios um do outro que você vai se camuflar entre o jogo de luzes e as sombras dos meus cílios  e logo em seguida - - e eu já estou irremediavelmente decidida -- até que você ...

29 de junho

saber que ainda há pesadelos  a serem brutalmente descortinados que a carnificina não se dá por encerrada e que seu objetivo é apenas pôr panos quentes  -- na lógica maligna de que a ignorância é protetiva   é como  quando tanques inimigos se aproximam de um bairro residencial e param na esquina -- você assume essa clássica postura defensiva manipulando os eventos para que eu não  tenha acesso a algo potencialmente revelador  -- a caixa de pandora nas suas mãos  que você retira das minhas em reflexo  essa elipse torna tudo muito escancarado   eu te dou novas segundas chances a duras penas mas quando diante da minha desconfiança (com razão de sê-la) você emite alguma verbalização grosseira  por descuido e para descarregar a frustração  -- o corpo já demasiado ferido sangra mais fácil  a pele é mais fina a lesão, mais funda contra-vontade, o rompante me desmancha em público  te preocupam os olhares de soslaio e disso virar c...