03 de julho

não existem provas do contrário.
o horror que conjecturo 
se mostra exatamente 
o que é.

você se nega a exibir
o que te incrimina
e chama de "individualidade" 
suas trocas íntimas com outras

a verdade é que nada mudou --
como prometido aos mindinhos.
um status unilateral te é suficiente
para não definir como traição
e manter a consciência intacta.

então me bombardeia com ofensas
quando eu insisto que é imoral.

tenho de sair daqui. me ergo 
o caminho é torto
e logo me curvo 
porque o choro é denso
você exige que eu tenha reações discretas 
pra que os transeuntes não te olhem com desconfiança 
quer que eu não soluce tão alto
e que pareça que você não tem nada a ver com isso.

fica distante alguns passos
observando

berro com você, você dá as costas
como se não fosse consigo.
me escoro na grade,
meu corpo insiste em tombar.
algum anônimo quer me ajudar, ouço 
                                                                     distante

você me acompanha até em casa
não por precaução 
mas por estratégia de controle.

mais uma vez há coisas suas na minha casa
porque eu confiei que seria seguro
você me ter como lugar para onde voltar.

eu corro pra me perder da sua vista
esqueço que é necessário respirar
as mãos em transe derrubam as chaves 
e mesmo atrás de mim, 
você as deixa lá. me obriga a voltar e recolhê-las.
me ajoelho aos prantos em frente a um motel 
que já frequentamos tantas vezes. 
sigo pela rua escura tentando me regular sozinha,
é minha tarefa 
-- estar sozinha.

digo que quero que você morra.
mas na verdade que eu morra
parece a única alternativa 

na rua, meu estado crítico não te convence, 
não te elicia compaixão, 

mas quando entramos em casa, sua postura muda drasticamente 
entre paredes você fala baixinho, 
segura meu rosto entre as mãos, quer que eu me sente,
quer que eu esfrie o corpo. quer que eu beba água.
quer que eu me medique.
não quer ir embora e me deixar naquele estado.
se nega a entrar no carro.
digo aqui estão seus baixos, seus transmissores e suas receitas.
você pede desculpas, você sempre pede desculpas tarde demais.
você só sabe pedir desculpas
ao invés de fazer o que não precise delas depois.

você só cuida quando é conveniente 
quando eu sou uma cadela pra você
quando estou de quatro você me trata bem
mas jamais quando estou de joelhos

já no portão, você me diz 
"você vai se arrepender".

depois, de repente, em poucos minutos,
quase me entende.
mas sei que isso é teatro também.

quero responder que eu te amo ainda mais
mas essa é uma cena que precisa
ser excluída do script.

termino o dia no veneno,
não apenas dos cigarros,
mas de quando escolhi detidamente  
aquela lingerie mais cedo
vesti meu corpo com cuidado
para à noite você remover minha pele a seco.


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