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Mostrando postagens de 2019

o deus no breu

Ele disse que eu era um pouco desequilibrada, e, honestamente, não sei que espécie de reação esperou. Agora eram quase 2h da manhã e eu não dormia. Disposta na cama como um bloco de concreto esquecido, sentia cada ponta minha gelar, como uma estrela de davi ou um pentagrama invertido. Mas ali ele, onipresente e onisciente - os olhos sem pálpebras ou íris ou cílios disciplinadamente arregalados, um domo sobre o planeta. Não há deus que resista ao escuro; e por todo vértice avesso o breu reinava absoluto, alcançando onde o olho não conhece e dissolvendo o antigo espaço. E nada comprovava que o mundo continuava ali. Primeiro de todas as coisas, lar de qualquer vida. Avançava minhas mãos convulsas descobrindo a disposição dos móveis. Tarde demais para buscar o interruptor. O que eu posso dizer é que sim, antes dos demônios e das maldições, não há maior horror do que o de uma mulher louca tentando ser amada. O limite entre o sintoma e a idiossincrasia, entre o circo de aberrações da doença ...

volte para casa, amor

Foi mais ou menos nessa época do ano, sob a prova cabal dos gastos expansivos com as luzes néon e hiperativas, que minhas mãos começaram a tremer e bramir independência; meus braços como cotocos inconsoláveis apenas podiam assistir aqueles membros alheios se alforriando. E os dedos se contorciam e estalavam e se esticavam em direção ao estranho mais próximo, inadvertidamente buscando tocá-lo - um afago nessa parte de trás do crânio, onde é macio e quente e quase esquecido, visto que os olhos sempre adiante se apressam em partir do corpo. Aqueles frágeis esqueletos, regiões propícias à carícias abandonadas antes mesmo de sua ideia e posterior ação... Minhas palmas queimavam em hiperidrose, a pressão se abismava, eu tinha DE. Os segundos então se faziam guerras civis silenciosas e uma simulação empobrecida de esbarrão descuidado ou confusão com o perfil tão semelhante ao do fulano. Desculpa desculpa. A insônia companheira me sibilava possibilidades de eu ser uma abusadora em negação. E e...

todo dia é maio

isto não é uma menina . a testemunha curvada  punha fora o ácido  (um outro, bem mais bem mais humano) isto não é uma criança. nenhum preparo objetivo prevê essas lágrimas  e um ou mais policiais maculavam suas poses másculas  por entre as fardas. isto não é uma filha. a mídia de Médici expiou seu bode na boliviana chamada traficante. e os passos sozinhos de araceli  foram logo único cerne da história  já que os envolvidos eram muito perversamente acompanhados.  isto não é a minha filha. e a mutilação lancinante de um pai que vê tombada em barbárie sua prole não passou no crivo da censura institucional  para ter permissão de lamento. isto não é um corpo. então pequena, foi descoberta ainda mais pequena nas sobras dissolvidas sadicamente às pressas  arremessadas ao léu de ...

nau dos insensatos

"- Louca" outra vez muito bem repito para não ter certeza  aceito epíteto. tal qual última refeição de um condenado - sob uma almofada ao chão simulando pobre conforto comprei mais um maço  e fumo com ódio. tudo o que eu faço e o mais que eu seja é com ódio. de que flores você comenta? dias ruins e piores, mas isso? isso eu? desejo findar os desejos outra vez. destilo à caneta azul a saúde custa mais que a doença, e ele? eu quero proteger da minha corruptela genética  tenho de rosa pintadas as unhas, quanta ironia. meus gatos talvez viciados em nicotina. e a suspensão das reticências - nunca sei mais que não sei nada nada absolutamente nada mais aceita um alprazolam?  na dose de seringa? o primeiro morreu e o segundo já se foi. virão outros, mas e eu? lembrei à mãe que ela ainda não havia morrido, e por que? mais para n...

meu nome não é eva

algo sobre medo. outro algo sobre o mesmo medo dessa vez pavor do fértil quando o muco se veste de branco ódio do ciclo porque implica  mais que a morte mais que o vício  o meu tempo burlado natureza às custas do cuidado mas muito, muito cuidado com o poder supremo de criar eu sou um múltiplo - plural suprimido do discurso  pra não te assustar eu sou toda fluido flexionada como deusa única a fiat lux mas em selva de alvenaria  nenhuma auréola a expor os peitos jazem mutilados caça à solta em avenida me cobiçam cada buraco esses sem-nomes me entram secos de toques roendo túneis  boatos medievais: guardo o sexo que não me pertence não me diz respeito nem me dou respeito homens simples treinados em blitzkrieg (hoje não volto pra casa) num bairro muito escuro de luz vermelha meus olhos ensaiam sangrar outra vez a gaiola de vidro dessa vez tenho de dança...

em seis anos atrás

2013. em 6 anos atrás uma menina ainda é uma menina. o cabelo comprido ainda escorria intocado pelo corpo ágil de pluma.  nenhum sinal de parasita ou pílulas. esse corpo não farejava seus predadores e festejava perigosamente sua imácula.  esse corpo era o Qualquer  nem receptáculo nem química ateia a saliva era solúvel,  olhos condiziam com membros que não espasmavam  num reflexo ridículo de fuga, a respiração não sofria abortos no percurso. os dias eram ordinários  nunca antes houve preocupação sobre o que era uma mulher  mas devia ser uma mulher ou coisa e tal um arremedo ou quase tropeça entre terminais jurando desbravar a cidade e ganhar espaço, muito longe de casa ainda sem saber sobre as casas que não são lares e sobre matadouros que comportam o sono de seus carrascos como todos os piores esse massacre em específic...

anatomia de um ataque de pânico

Trancada. A chave por dentro. Do outro lado da porta eu escuto cada fonema que me prova minha derrota. Fragmas dos vídeos que há pouco mais de meia hora exibiam outra de mim às gargalhadas e piadas estúpidas. No intuito de mascarar. De mentir o que já brotara desde cedo.  Há alguém encostado na porta, uma voz que deveria acalentar, mas eu não sei. Não sei mais sobre amigos conhecidos estranhos ameaças. A música chega até aqui e eu odeio. Odeio não poder esticar as pernas. Odeio não inspirar o suficiente, o ar ricocheteando vago. Quero ir embora, desabar em casa, mas não consigo passar pelas pessoas na sala, conversando, rindo, comemorando. Tampo os ouvidos com mais força do que deveria mas os sons ainda perfuram.  Isso já me aconteceu? Acho que nunca aconteceu. Ou talvez não assim. Ou talvez todas as vezes que se manifesta seja tão diferente e colossal que pareça único ...

13 milhões

tentei de novo. o gosto criando a boca. não um abreviar dos anos mas uma mercantilização deles. e o que deveria manter-se no impessoal culminou em química preta - grogue e indinstinta. grogue e indistinta - não sei onde terminam meus membros. tentei de novo; o oposto dos meus esforços diários e agora torno, a cara inchada por explodir, ao meu ponto de partida, 18 anos. mas nada mais tenho que me lembre as promessas por se cumprirem,  o extinto privilégio da dúvida  o tempo a meu favor - meu deus mais próximo, onipotente. dionisíaco. meu amado baco foi nada mais que traído. salto meu próprio esqueleto envergado  prostrado sob a suposta dignidade que confere o trabalho. eu me vendo custe mesmo minha ideia desbotada  desbocada  de alma. e me disponho à mais vagabunda pechincha. levem minha mão de obra,  e o que mais pareça serventia mercadológica. ...

Eu vou ficar bem

Você demonstra se preocupar comigo e insiste que preciso conhecer novas pessoas. Antes mesmo de te ouvir terminar a frase, meu coração dispara encurralado e prevejo alguma intenção sórdida por trás dessa suposta preocupação. Você me acha dependente emocional e não quer que eu construa esse tipo de elo contigo; você forja se importar com minha inabilidade social para enfim poder se livrar da minha companhia pesada e meus assuntos melancólicos. Outra vez eu sou esse pólo negativo que repele as pessoas, um fardo imenso até para aqueles que juraram não se assustar - como você, no início. As pessoas costumam me garantir que é um problema a ser lidado e que não sairão correndo quando minha voz sumir e meus olhos tentarem mergulhar no globo. E então elas me descobrem e passam a dar desculpas e se esquivar ate mesmo das minhas investidas nos dias mais tranquilos. A verdade é que p...

Você morreu todas as vezes que desejou

Instrumentalize.  Faça algo com todo esse ódio, com todo o veneno que te cabe. Não ouse deixar que ele destile e escoe sem rumo, à toa,  gratuito, como o sangue puro da tua menstruação que escorre pelas coxas até o ralo. É assim que você não se deixa ser vencida. Não podem te devorar dessa forma. Se você gostar da dor. Se você fingir que precisa dela. Continue. Sinta a dor, consuma, beba. Engula o sangue seco, deixe ele coagular na garganta. Seja a maior fã da tua morte.  À primeira vez que você viu sorrowing old man pensou: que ridículo. Como isso é arte. Como isso é qualquer coisa. Como isso é outra merda senão cores espatifadas numa tela, sem sentido, tom de malária, como isso é algo que não além de nada. E hoje, eras depois, no Ceará, aos 21. Você sentou da mesma forma, na mesma pose, e viveu. Viveu a tela. O homem amarelo ou ci...

non-acceptance

nada é maior que o reflexo. o espelho é predador nato, sorrateiro, mas não é dele a peçonha. o espelho é a terra da nudez e basta que as pontas recheadas dos meus dedos toquem-no pra que eu afunde no mais subterrâneo  golpeio com a testa essa mulher perversa e odiável que ousa me parear  me arrebento gosto de sangrar das cócegas das gotas,  essa é minha aceitação  uma mulher de cara estilhaçada tanto que já não existem quaisquer votos de beleza matei uma criança e uma adolescente e arrasto seus cadáveres desgastados são meus véu e grinalda  a memória se projeta desafiante  através do prisma das íris  transita entre meus sentidos e me conforta no irreversível,  no incorrigível,  de não haver a mais pretensa possibilidade  de receber o perdão e recomeçar.
abri mão querendo ser pega no colo mas ser muito pesada sempre foi um problema "os homens querem mulheres fortes" então aguentei todas as pancadas. esqueceram de mencionar que não era essa a tal fortaleza os homens não querem mulheres independentes porque isso os transformaria em meras e espontâneas escolhas  e não nessa necessidade e objetivo delegado a cada minúscula vagina detectada no ultrassom uma mulher nunca é o tipo de mulher barraqueira, vagabunda e louca que apanha, busca amarração ou rasteja uma mulher nunca é rival da outra  até que entende que possui essa incompletude inveterada depois da primeira infância  uma mulher nunca mais será  bonita o bastante depois de nascer  essa mulher nunca será muito mais do que bonita ou feia ou puta ou decente essa mulher nunca mais habitará  outro lugar senão os esgotos dos antônimos  sua vagi...

baby blue

semana passada ele cancelou comigo. voltei aflita, e meti em mim o que pude de comida como se isso pudesse sanar ou sarar o choro quem sabe compensar a ira. eu nunca tinha fumado num consultório. me preocupo com os outros. dos outros lados,  muito depois dos muros. você se preocupa com os outros? sim. eu fui sincera. eu sempre fui. e quis chorar de novo porque sei o quanto já rasguei pessoas  falhando sincera demais com o que queriam, mas não comigo mesma. quis ser real pra eles. não, eu não posso. não, eu não tenho. não, eu tenho de te dizer não.  ele, esse homem imenso, de mãos grossas, cruzadas atrás da cabeça, descalço e despreocupadamente largado no trono ébano  me enfiava os olhos de um jeito desconfortável, torto, eu ziguezagueava pelos planos, na decoração, no reflexo da mesa, nos saquinhos de chá, na bandeija com mussarela ainda meio chei...

lávica

falo. por mim. por ela. que nem conheço. pois não preciso. porque eu sei. falo. pela outra. e mais uma. por todas. nosso exército de endométrios  que, como auto imune, sangra a si mesmo. odiamos e repelimos, e repetimos: odiamos nossos corpos  odiamos  nossos seios caídos e profanos não europeus  de aréolas imensas - pérolas castanhas pendentes odiamos  nossas barrigas  que protuberam com a idade  e formam camadas ao sentar  odiamos  nossas curvas acentuadas nossas gorduras essas fudidas gorduras centralizadas estranguladas sob cintas e disfarces tão distantes dos comerciais de abdômens lisinhos odiamos nossos grandes lábios escuros em nada semelhantes às vaginas puras dos pornôs  odiamos essas costas   de mais dobras que um livro de versos odiamos nossos sinais de mulher madura nossa baixa de colágeno os fios ...

corpo de prova

é um mau hábito julgar pelos pronomes; mas renuncio a iniciar poemas na primeira do singular. não venho primeiro. apenas sou só. outro desses falidos banhos me pegou, e eu usei os olhos em mim. e deu uma vontade de rir lacrimosa, mas rir do que foi que você fez. deixei, claro. permiti passagem estadia aluguel morada habitat zona de conforto desmatei e fundei pólis contive os pólos pra te afirmar. àquela noite eu usava um vestido fino longo e verde escuro distoante da maioria em seus trajes de calor incessante te espiei por entre as árvores e nunca me atingiu o pensamento  de que qualquer contato ali se transformaria  no que eu fito hoje com ou sem desprezo, não importa, não cabe valor eu nunca imaginei que tu se estenderia como uma rede de luz mais veloz que o tempo subordinando meu campo de defesa e ataque me alvejando e almejando (ambas coisa só) e sei lá o que eu mesma fiz de mim. ...

mama

hoje não poderia ser outra noite Lambert foi enfim libertado das correntes de borboletas - e eu consegui chorar. sofri um acidente trágico despercebido. fiquei com sequelas graves que olho nu não alcança. se eu pudesse ao menos me inundar de sangue, vísceras frescas e hematomas , eu disse, abafada em seu peito, poderiam supor de repente, volto para onde penso que nunca deixei não percebo o caminho e o que parecia melhora foi apenas torpor. alprazolans em fila  brincam com os relógios e o tempo tem um pouco mais de mim eu cresci demais e agora não caibo mais em casa mamãe tenta abarcar mas um colo não é um ventre percebo que assusta tanta dor apenas dor e não raiva ou revolta então, mamãe se desculpa  por ter sido ausente ela ainda acha que poderia ter impedido nunca se está lá  o bastante quando homens chegam - sempre vêm pra ficar mesmo depois que nos aband...

epitáfios

ele limpava o suor do copo com o indicador, absorto noutras coordenadas, e o assunto surgiu - estava lá novamente, estava lá ainda , e eu hesitei um mínimo. é difícil , eu disse. na falta de uma palavra maior, é difícil. difícil pra buceta , na presença de um superlativo. então ele bateu em retirada como os últimos caras com quem eu me arrisquei a sair. não faz sentido , um outro falou, um lado da boca esboçando um sorriso irônico, você que não sabe escolher , nem todos são assim. eu não sou, continuou, ultrapassando o limite de velocidade do carro e avançando sinais vermelhos. é do que eu gosto, concluiu . adrenalina. guardei essa palavra. adrenalina. você não poderia entender,  porque nunca está no banco do passageiro , respondi. não faz sentido, repetiu rindo roubando a preferencial e gritando vagabunda a motorista do carro que freou brusc...

superlativa

a condição é passividade. a lei é agonizar sem barulho. sem cena sem drama. eu ainda era quase criança à primeira vez que depilei as pernas e foi sempre quase criança que era forçada a deixar de ser. aos sete, descobri que a repreensão  recairia sobre quem usava a saia ao invés de sobre quem se esforçava para espiar o entremeio das coxas antes mesmo do estirão, marcas de quedas e pancadas, calcinhas estampadas de algodão... desde então não amarro os cadarços de qualquer maneira. calculadamente me abaixo, num cantinho estratégico e encolhendo os quadris - toda sutileza para não provocar as bestas. toda atenção para não cometer o pecado  de deixar juntar as sobrancelhas  ou usar apenas uma blusa quando o tecido passa a revelar as mamas apontando entre a gordura - mas a condição é  passividade. relevar os comentários ...

logo logo

não dá pra me dar um jeito o prognóstico é esse péssimo  como como se engolisse conforto e colo todos com seus dêiticos bem definidos; nunca roubei sonos  perturbei sonhos  arrepiei nucas  salguei olhos fui fait - diver de poema ou discussão entre orgulho pueril e tecla de chamada não fui destino de bêbado  minha árvore me expeliu como fruto podre. meu corpo circuito muito curto; meses de apagão após incêndio numa geração tão sintética. antes do acidente-eu bastavam apenas dois de seus dedos no interruptor odeio minha libido. todo esse fisiológico e qualquer orgasmo plúmbeo é poluído de fantasia nele o corpo dele elétrico em trilhões no fluido - os jatos de porra - nada seria tão orgânico, ninguém seria tão mestre do absoluto vácuo e  quantos buracos negros e brancos amarelos roxos carmíneos -...

meu sincero,

desinteresse sobre procedimentos básicos dessa espécie, me esqueço os pormenores. esse corpo quer ser entidade à parte, sem me atender e se por mim nada faz menos ainda farei por ele - cada qual no seu canto. que só por acaso é o mesmo. não ia te fazer feliz você não se sentiria completa  te acarretaria mais culpa, e um arrependimento monstruoso - disse quem não sou eu  quando cogito soluções  os soluços em uníssono me apontam ah, se ainda fosse possível prevenir com um ou dois comprimidos que remediar... se minha mãe não tivesse tanto me amado desde início,  delirando a lindeza simbiótica que acomete toda mãe  se antes mesmo de eu me aglomerar ela já não me tivesse construído inteira de sonhos ruídos, se não isso ou aquilo, ela poderia me poupar - e eu nunca em vida conheceria a dor  como uma praga, me nidei ao ...

cessar-fogo

o país pegando fogo - mas esse meu incêndio é outro... aqueles rútilos azuis vizinhos dos vazios onde houver morte a se desfazer é disso que me faço fosso. o país pegando fogo eu apegada à fronte fria a fronteira mínima entre o cárcere  e o mais que querer  uma a uma minhas verdades sendo substituídas pelo teu gosto pra que eu pudesse um pouco provar... fingindo no meu mundo adentro existir estável e certo pra no cotidiano concreto me desconhecer na mesa de bar. a ponto de eu ter que me tornar escândalo  ou você me passava batido - e eu me convencia surrando.  nos meus pulsos, cada briga tantas noites, mal dormidas minhas recaídas, tuas fugas mea culpa eu te pedia mea culpa e a loucura avultando o real insistindo e insistindo antes d'eu ser mais estatística. estática esperei na esquina uma ridícula prova. bastava aparecer. e eu te veria inteiro r...

carnaval

nossa última viagem em nada comunicou-se com a primeira. numa barraca minúscula  você a anos-luz de mim. eu sabia que muito você escondia e tu não suportavas o quanto eu expunha. escolheu então as estrelas acompanhadas de umas cervejas, eu fiquei a sós onde seria nosso encontro, nosso encanto,  contando minhas estrias. até rolei para dentro os olhos - e como era outro meu corpo enquanto nós... não podia nem sequer me dizer eu. quando você se deixou cair sobre o colchão, pelo sono, e não por mim, me virou as costas acostumado. mas eu, igualmente acostumada, contei dedo a dedo os teus sinais e as gêmeas estrias nas tuas costas cheirei tua pele pura noite adentro e soube, mas neguei, que não existiríamos mais. mas neguei. eu neguei até o fim, ralhei comigo mesma, imperativa me ordenei tentar e aos rodeios quis mesmo coagir dizer sou eu, sou eu, aquela por quem você s...

genesis

quando isso começou? e isso é pergunta que se faça? mas você ousa, eu gosto disso. olha bem que eu não sei. também não foi disso de acordar, olhar em volta e terem sumido as cores. o povo pensa que eu vejo em tom cinzento, ou até preto e branco, uma suposição antitética, dicotomizando a mim. mas não, eu vejo as cores, opacas, claro. uns vermelhos mais vibrantes, aquela cor de sangue fresco do miolo do corpo, uns pretos mais foscos como o preto mais preto do mundo. eu tenho visto umas cores, só não faço parte delas. mas retomando, quando isso começou. não existe uma fronteira rígida que me denuncie, hoje eu só me arquiteto na desistência, acho que foi se chegando como uma gangrena - bem discreta tomando tudo pelo subterrâneo, até que eclode e você perde um bocado de si. o que eu perdi de mim? se eu disser que não foi tudo estaria mentindo, e eu só minto à noit...