o deus no breu
Ele disse que eu era um pouco desequilibrada, e, honestamente, não sei que espécie de reação esperou. Agora eram quase 2h da manhã e eu não dormia. Disposta na cama como um bloco de concreto esquecido, sentia cada ponta minha gelar, como uma estrela de davi ou um pentagrama invertido. Mas ali ele, onipresente e onisciente - os olhos sem pálpebras ou íris ou cílios disciplinadamente arregalados, um domo sobre o planeta. Não há deus que resista ao escuro; e por todo vértice avesso o breu reinava absoluto, alcançando onde o olho não conhece e dissolvendo o antigo espaço. E nada comprovava que o mundo continuava ali. Primeiro de todas as coisas, lar de qualquer vida. Avançava minhas mãos convulsas descobrindo a disposição dos móveis. Tarde demais para buscar o interruptor. O que eu posso dizer é que sim, antes dos demônios e das maldições, não há maior horror do que o de uma mulher louca tentando ser amada. O limite entre o sintoma e a idiossincrasia, entre o circo de aberrações da doença ...